(Ant. Paulo)
Tambores, fanfarras, guiões, bandeiras e estandartes Fardas em desfile
Hinos
Pátria amada. Filhos da Nação
Discursos moralizantes
Vassalos e mandatários de governantes
Donos da guerra e da paz
Cais de embarque
Multidões chorantes
Mães, filhos e esposas delirantes
Beijos, abraços, gritos, desmaios, angústia, dor, sofrimento
Mar calmo, mar revolto, mar imenso
Caminho das Indias
Viagem com esperança no regresso
Cabo das Tormentas
Ventos orientais africanos
Descarga de gente requisitada e numerada
Semblantes carregados. Incertezas
Lione, Chala, Matipa, Vila Cabral, Luatize, Tenente Valadim
Lugares marcantes
Picadas, trilhos, caminhos errantes
Caminhadas imensas, caminhadas intensas
Selva, embondeiros, capim, feijão macaco
Bichos selvagens, moscardos, moscas, mosquitos
Cansaço, desânimo, sede, esgotamentos
Doenças e acidentes. Paludismo. Desfalecimentos
Trovoadas, chuvas torrenciais. Rios cheios, rios vazios
Cacimbo, lama, pó
Miséria e fome
Crianças inocentes, barrigas grandes, umbigos salientes
Psico
Cartas, aerogramas e outras missivas
Madrinhas de guerra, abençoadas divas
A berliet, o unimog, a cabra do mato
Viaturas para colunas, colunas sem viaturas
Espingardas, bazucas, morteiros, granadas, minas
Metralha, explosões
Nervos à flor da pele
Gritos de dor, gritos de raiva
Sangue
Aviões e helicópteros
Urnas de chumbo
Homens de luto chorando
Soldado que não volta à sua terra
Vendilhões de patriotismo que espetam no peito cruzes de guerra
…...............
Pela calada da noite é a fraqueza que vem
Sinto nos meus olhos as lágrimas de minha mãe
Ex-fur. Paulo
Ontem, após aquela gozada viagem no "Comboio do Catur" tão incrivelmente revivida, ainda tentei aqui me sediar para dizer bem alto e de inteira e meritória justiça como este poema, ao mesmo tempo, tão pesado e leve, do companheiro Paulo, me deixou inerte, sem acção, ao ponto de ter dificuldade em articular palavras, frases. Fiquei fechado em mim próprio, só se escapando, sem meu consentimento, umas poucas lágrimas, que a minha mulher ainda teve tempo de enxugar com um abraço.
ResponderEliminarPaulo, esta tua "obra de arte" é digna de ser divulgada mais além. É crime se ficar fechada dentro dos muros do nosso blog!!
E mais não sei dizer!!
Paulo,..Novo amigo e companheiro d`armas.
ResponderEliminarFiz a viagem no comboio do Catur pela primeira vez em Maio de 1968, e novamente hoje pelas tuas palavras.
Nao sei qual delas me abalou mais, ou foi mais verdadeira,real, nua e crua.
Estas de parabens..
Um abraco amigo.
Joao Infante.