27 junho 2011

O NOSSO VILAS-BOAS

A solidariedade é um nobre sentimento que, quando devidamente praticada, quase sempre tem retorno, mais não seja deixar-nos com a sensação de bem estar pelo dever cumprido.  Talvez seja exactamente aqui que reside o fiel da consciência!?
Vem isto a propósito da viagem que fizemos a Lisboa para visitar o amigo Vilas-Boas (foi furriel no pelotão do Soares, lembram-se?) levando-lhe, além da nossa presença, palavras de ânimo e de coragem para que consiga ultrapassar os dias menos bons com que agora se debate.
Desde o último almoço em Coimbra que o Santa vinha alertando para o problema de saúde daquele amigo.   Assim, de conversa em conversa, agendou-se uma visita ao Vilas-Boas para o passado dia 17 de Junho.  Foi iniciada mais a norte pelo Soares que fez o favor de apanhar em casa este vosso amigo.  De seguida fizemos paragem em Coimbra onde, além do reabastecimento obrigatório, entrou o passageiro Santa.   Antes da chegada a Lisboa, fez-se um desvio por Alcoentre (Tagarro) onde já nos esperava o Morgado, algo impaciente pelo não cumprimento do horário!  Fez questão de participar nesta visita, uma vez que se trata duma já longa e  bela amizade com o amigo Vilas (como normalmente o trata),  nascida na recruta (em Santarém)  e se prolongou na 2415 até aos dias de hoje.
Foram cerca de 3 a 4 horas excelentes passadas em casa do Vilas-Boas que, com a simpática esposa, tão bem nos receberam.
Como devem imaginar, aquele número de horas foi pouco para tanta coisa que ainda havia para dizer.   A conversa girou à volta das aventuras e desventuras passadas na "tropa", desde o primeiro dia da recruta até ao ultimo na chegada ao cais da Rocha (ou de Alcântara ?).
Com pena nossa muito teve que ficar por contar e relembrar.  O dia era dedicado ao Vilas e, por isso, foi ele o "palrador" principal como, aliás, o sabe fazer tão bem!
Apesar de algum défice de saúde, mantém o estilo, a forma e, já agora, até o conteúdo.   Como foi bom ouvi-lo e estar na sua presença.  Houve momentos que me senti de novo dentro da 2415, acreditem!
À despedida, e dentro de todos os condicionalismos, fez questão de nos acompanhar à porta onde trocámos fortes abraços com a promessa de, quando possível, voltarmos.
Obrigado Vilas-Boas, olha por ti, a vida vale sempre a pena.


Os amigos: Soares, Santa, Morgado e Castro

   

26 junho 2011

VELHOS TEMPOS


Por: F.Santa

“A MILÍCIA”


Estas fotos são do tempo da outra senhora! Elas fazem parte de um passado, passado fascista, de que eu não tenho grandes saudades, antes pelo contrário. Este episódio do passado só foi bom para mim, pelo motivo de ter aprendido ordem unida e a manusear a famosa “Mauser”, de resto era uma grande seca. Em Santarém onde assentei praça, beneficiei desta situação, pois fiz muito pouca ordem unida ou quase nenhuma. Aprendi ainda o funcionamento de algumas armas e a sua manutenção. Tudo incluído, facilitou e muito a grande seca que era mesmo a ordem unida!
Muita malta e em particular muitos alunos das escolas, me tem perguntado coisas sobre este assunto, pois para eles é totalmente desconhecido. Sendo assim eu aproveito para explicar resumidamente o que realmente era isto! Chamava-se na altura “Milícia” e tudo o que a lhe dizia respeito era a ministrado no antigo quartel de infantaria 12 em Coimbra, onde éramos instruídos (claro) por militares. Eu na altura estudava na E. Industrial e Comercial Brotero e a milícia fazia parte do horário escolar ao sábado da parte da tarde. Depois de algum tempo na Mocidade Portuguesa, passava-se então para a dita Milícia. No início do texto já referi o que se fazia. As fotos mostram o acampamento final nas matas de Pataias e uma visita ao Castelo de Leiria. Na semana de acampamento fizemos também provas de patrulhas, provas de orientação nocturna e ainda provas de orientação por carta. Coube-me ainda num 10 de Junho, fazer Guarda de Honra ao túmulo de D. Afonso Henriques, que como sabem está sepultado na Igreja de Santa Cruz em Coimbra.

 (Sobre a M. Portuguesa e a sua Milícia e "vantagens" no serviço militar, leia aqui ) (Nota do "editor"...)
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Agora, como prometi, aqui vai o nosso avião de combate “FIAT”.

Este foi o principal avião de combate de toda a guerra. O FIAT era adequado para o combate aéreo e ainda ataque ao solo. Foram muito utilizados na Guiné. Segundo sei, os nossos Fiats, foram os últimos no mundo a sair de serviço. Terminaram a sua carreira em 1995.
 Já  agora uma curiosidade: os nossos inimigos chamavam-lhe Os caga guarda-chuvas”, pois este avião tinha um pára-quedas que saía pela parte de trás, com a função de o ajudar na aterragem, diminuindo-lhe a velocidade.

A foto que se segue é para mostrar uma preciosidade. Já  estive junto dele e é extraordinário ver a quantidade de horas de voo deste “ brinquedo”. Desde 1965  a 1993, 75.000 horas de voo ! É obra!
 


Para todos, um abraço do Santa

23 junho 2011

24-06-1969 NÃO ESQUECEMOS

(Foto da lápide no Bom Sucesso - Lisboa)
Ferido no ataque ao Luatize, deixou-nos já na madrugada
do dia de S. João.
Quem tem uma foto dele para colocar aqui?



Vespera de S. João

Faz exactamente hoje 42 anos (23 de Junho de 1969)  que sofremos o grande ataque ao Destacamento do Luatize onde tinhamos chegado nesse mesmo dia e ainda com as caixas de bacalhau e outros víveres, ainda desarrumadas, que então estavam a servir para a nossa "mesa de jantar". Foi então que logo no início da nosso jantar, com um "petromax" aceso que nos iluminava o jantar, começamos a ouvir os primeiros tiros, que eram de "balas tracejantes" seguidos de morteiros com granadas iluminantes, etc., ..............Que grande coincidencia com o "fogo" de S. João !

22 junho 2011

21-06-1969 NÂO ESQUECEMOS

(Lápides no Monumento do Bom Sucesso em Lisboa)

  Vítimas no desastre de Mopeia, no Zambeze. Nesta mesma data de 2009 e de  2010 foi publicada alguma informação sobre este trágico acontecimento, que podemos rever ("clicando") . Lamento não possuir fotos destes inditosos camaradas.

19 junho 2011

ECOS DA GUERRA COLONIAL

Por: F. Santa
Julgo ter algum interesse para todos que andaram na guerra, sendo deficientes ou não, este apelo:  devemos ter em atenção aqueles que, mesmo não tendo o rótulo de deficiente, sofrem os traumas da mesma guerra no silêncio familiar, com vergonha de os assumirem   ou por não terem quem os encaminhe para o sítio certo para que eles sejam resolvidos. Além dos traumas, fazem parte outras doenças que  carregamos oriundas da mesma guerra. Ainda hoje (desculpem o que vou dizer) vão chegando até nós camaradas   que parecem farrapos, completamente perdidos no tempo. Eles e as suas mulheres e por vezes até os filhos, vêm  pedir ajuda para os seus problemas, só que os  processos arrastam-se pelos corredores dos esquecidos e alguns, quando são resolvidos já é tarde demais! Nós, A.D.F.A., queremos que todos aqueles  que, como já referi, não têm rótulo de deficiente, não sejam também esquecidos pelo poder político e que sejam olhados como membros da mesma guerra. Sempre que precisarem não tenham receio de contactar-nos.



Algum tempo atrás, falei aqui no nosso site, de um seminário que a delegação de Coimbra (de que eu faço parte) ia realizar nesta cidade, com o título “ Ecos da Guerra Colonial”. Este mesmo Seminário realizou-se no passado dia 11. Estiveram presentes o Pres. C.M. de Coimbra, Reitor da U. Coimbra, Governador Civil de Coimbra, Comandante da Brigada de Intervenção, Director do S. de Saúde Militar de Coimbra, Pres. da L. dos Combatentes, Pres. da Direcção Nacional da A.D.F.A e o Pres. da Delegação de Coimbra da A.D.F.A.
Foram ainda oradores o Cor. Lopes Dias da A.D.F.A, o M.General Augusto Valente da Ass.25 de Abril, Dr. Teresa de Carvalho investigadora da U. de Coimbra, Dr. Sena Martins do CES- U. de Coimbra, Dr. Margarida Calafate também do CES. Todos estes oradores falaram sobre estudos que estão a ser feitos, muito especialmente sobre a Perturbação Pós-Stress Traumático, da Guerra Colonial e dos D.F.A. .  Sobre a Guerra Colonial, o Dr. Sena Martins conjuntamente com o Dr. Boaventura Santos estão a fazer um trabalho sobre toda a verdade daquilo que foi realmente a guerra e o que nós passámos. A verdadeira história tem que ser contada, não pode ficar fechada no baú para sempre. Segundo sei ainda vai demorar cerca de um ano a estar concluída, mas depois, muita gente irá ter conhecimento de muita coisa.
Sendo assim, e como tudo isto também fás parte de todos nós, eu vou transcrevendo alguns textos, sobre este assunto. É bom que ninguém se cale perante as autoridades máximas deste país e diga: BASTA! Queremos, todos sem excepção, deficientes ou não, um fim de vida digno, pois todos somos filhos da Guerra Colonial, nem que para isso tenhamos que nos manifestar em público.

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Agora mudando de assunto.
Esta foto está  aqui só por uma questão muito simples. Quando vamos ás escolas falar sobre a Guerra Colonial, os alunos fazem muitas perguntas, algumas das quais, se havia também aviões, e neste caso fala-se no T- 6 ou no Fiat, eles interrogam-nos: Mas que aviões eram esses? Para muitos que não sabem que aviões eram, hoje vão começar a conhecer alguns. Como eu tenho divulgado o nosso site quando vou às escolas, a partir daqui eu vou meter alguns aviões para todos ficarem a conhecer. O primeiro é o famoso T6. Fica aqui um pequeno comentário sobre este avião:
O seu browser pode não suportar a apresentação desta imagem. O T-6 foi um dos mais famosos aviões monomotores de hélice, conhecido por nomes como "Texan", "Harvard", "Yale", "Wirraway", "Mosquito", "Boomerang" e "Tomcat", conforme o país que o usava. Foi adoptado na força aérea de 55 países, desde avião de treino de pilotos, a bombardeiro. Criado em 1935 pela North American, começou a ser utilizado em força em 1940, sendo introduzido em Portugal em 1946.

O T-6, podia ser convertido em caça-bombardeiro ligeiro, equipado com metralhadoras, mísseis, bombas convencionais
ou de napalm debaixo das asas ou actuar como avião de reconhecimento.


(Um T-6 a recolher as rodas. Foto SAAF)

Foram pintados segundo vários esquemas como com a fuselagem em cinzento metálico (alumínio), e os lemes de profundidade e de direcção, as pontas das asas e uma faixa na fuselagem traseira pintados a amarelo alaranjado, mas houve outros exoticamente personalizados.
Os T-6 utilizados em Moçambique durante a guerra colonial estavam estacionados em Nampula na base AB 5, a maioria pintada de cor de alumínio, ou com tinta anti-radiação a preto e verde-mate (baço) de protecção contra mísseis terra-ar do tipo "Strella".
Belicamente, foram usados pela última vez em Portugal, a 11 de Março de 1975. O motor deste avião fazia um barulho fora do comum. Era um barulho inconfundível! 
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E agora vai o primeiro texto que faz parte do Seminário “ECOS DA GUERRA DO ULTRAMAR”:
   


Para todos um abraço do Santa
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14 junho 2011

APOCALYPSE NOW

Nós também tivemos o nosso "Apocalypse Now", infelizmente. É nome dum grandíssimo filme, que me deixou marcas, realizado em 1979 pelo genial Francis Ford Coppola e protagonizado pelo famoso Marlon Brando, entre outros.  Põe em evidência toda a crueza da guerra do Vietname e o enorme sofrimento passado por aquela geração americana que, como a nossa, foi castigada sem saber porquê.
Vem isto  a propósito da obra-prima aqui deixada há dias, como sempre  pelo amigo Soares  através do video "A guerra ao vivo", pois veio-me de imediato à memória todo aquele pesadelo que vivemos. Parece que ainda ouço o roncar do motor do avião que, a pedido do Moreira a partir do rádio, veio à zona, e em voos rasantes de cá para lá, meter medo ao IN.  Passado tanto tempo é caso para perguntar: Que foi ele lá fazer sabendo de antemão que os chamados "turras", após os primeiros tiros de surpresa que normalmente direcionavam para a frente e  fim das  colunas militares em deslocação, davam rapidamente às de vila-diogo escondidos pela vegetação da mata?  Mas dessa arte de guerrear diziam perceber os corajosos generais do QG!?
Lembro também do tac-tac-tac característico do héli por cima das nossas cabeças que, infelizmente, foi obrigado a trabalhar mais cedo pois tinha que evacuar o falecido cabo Rodrigues mais os cinco feridos, alguns graves, resultado daquela maldita emboscada.
Talvez em homenagem sentida a eles, o Soares pede à malta que aqui os recorde.  
Normalmente, e contrariamente às normas militares,  as da caserna  relativamente aos deveres e obrigações que tão bem conhecemos, eu infrinjo-as dando o passo em frente que nunca se dá.  A todos peço desculpa por isso e, desta vez, ofereço-me com todo o gosto, assim lhes prestando  humilde homenagem. 
Então, com alguns desculpáveis lapsos de memória, foi assim:
Saímos de Vila Cabral com destino a Tenente Valadim (Mavago) e, segundo os meus apontamentos,  pernoitamos no aquartelamento de Nova Viseu (hoje chamada Mtelela) em 10 de Outubro de 1969.  Lá chegados dei de caras com o Zé (já não recordo o apelido) um dos operadores cripto mais malandros  que conheci na Trafaria, local da especialidade.  Claro, nascido em Lisboa na maternidade Alfredo da Costa, tinha que ser!
Foi uma noite em claro, nem pensar em dormir, o Zé com o maior entusiasmo mostrava-me, naquele tugúrio a que chamava centro cripto, três lindas peles de chita (felino algo parecido com o leopardo) esticadas e penduradas do tecto, que dizia serem troféus de caça nocturna que fazia com outros camaradas metido em cima dum jeep até uma distância de meia dúzia de kilometros, aproveitando a abundância da espécie  naquela zona.  E, como as balas eram de borla, valia bem a pena, digo agora eu!
Mas curioso é ter-lhe perguntado: Ó Zé, e para onde vais caçar não há "turras"? Nem minas?
Resposta pronta: É pá, aqui não há guerra, andou praí a engenharia e daqui em diante vais apanhar só alcatrão durante 10 km.
Pela madrugada adentro com muitos cigarros, fumo e cerveja ainda houve tempo para o Zé me dar uns palpites sobre a forma de me inserir na difícil arte do comércio de material porno.   E foi a partir daí que passei a contribuir para a felicidade de muita malta da 2415!  O meu correio passou a ficar mais pesado pois,  além das habituais cartas/aerogramas da família, provenientes de Lourenço Marques e graças ao amigo Zé, chegavam-me as famosas coleções  de fotos algo arrojadas para a época.  E acreditem tinham todas destino e o negócio até foi bastante rentável!
Como a guerra não podia parar, a coluna saiu de Nova Viseu no dia  seguinte  por volta das 7 h da manhã  rumo a Tenente Valadim.
À despedida o Zé ainda me disse, enquanto me sentava no unimog em cima da divisória entre o condutor e o lugar do acompanhante, desta vez  já de G3 nas mãos:  Ó pá vai à vontade por aqui não há porrada!
Lembro-me que a coluna era composta por várias berliets e unimogs.  Eu ia no último unimog, precisamente aquele que ninguém deve escolher (como eu era esperto!). Quando surgia uma recta dava para ver a berliet que ia na frente carregada de colchões até uma altura incrível onde a malta ia deitada descontraidamente.
E,  após alguns km,  tendo já terminado a zona alcatroada, eram para aí 8 h da manhã, repentinamente  começamos a ouvir "fogachada" sem parar, vinda da mata.  Toda a gente se atirou para a berma mais próxima disparando para o lado que estava virado. Foi o habitual barulho ensurdecedor  a gastar carregadores a todo o comprimento da coluna. 
A mim o medo tomou-me de assalto e não me deixou raciocinar e, por isso, em vez de despachar o carregador da  G3 por cima da cabeça (técnica apurada), como normalmente se fazia, entrei de peito  aberto  em corrida  louca pelo mato adentro rumo a destino incerto!  Só parei porque uma voz, em altos berros, vinda de trás, de quem sabia o que estava a fazer, dizia: Ó cripto, ó cripto, pára, pára, és doido, anda pra trás!   
Essa voz discernida era do nosso cozinheiro Sousa.  Daqui lhe digo: Ó Sousa, se nunca te agradeci, faço-o agora: Muito obrigado, a partir deste momento passas a ser o meu herói preferido!  Até te vou homenagear pela 2ª vez exibindo-te ao mundo inteiro  no exercício da tua nobre função de cozinheiro, com um molho de "spagueti" na mão!

       Muito obrigado Sousa. Que a saúde nunca te falte!

Aproximamo-nos da frente da coluna onde se iniciou e concentrou toda a "fogachada" e a confusão era enorme: gritos, gemidos, vozes alteradas, o costume, sem ninguém perceber aquela realidade dum companheiro acabado de morrer e dos outros feridos que não eram assim tão poucos.
Um desses, já não sei quem era, estava na berma da picada à sombra das árvores, gemendo de meter dó devido a um tiro no ombro direito e, quando me abeirei dele, tinha a camisa do camuflado encharcada em sangue. As muitas moscas não o largavam.  Tive de tirar aquela rede (não sei o nome) que usávamos à volta do pescoço  por causa do frio e do pó, acho eu, e cobri-lo de modo a afugentar as nojentas.
E, com o inesgotável "amor à pátria" de cada um de nós, lá chegámos a Tenente Valadim!   Mas não sãos e salvos como é hábito dizer-se quando se vive em paz!
O resto daquele "teatro de operações"  foi agora extraordináriamente contado  ao vivo, ao natural e com todas as cores no excelente vídeo colocado pelo Soares que mais parece um filme de acção,  como se não tivessem já passado 42 anos.

     
Interior da capela de Tenente Valadim. (Foto de Nov.1969).
Diz o meu amigo José Lopes Dias, que  vez em quando lá vai fiscalizar algumas plantações, já não existir.

07 junho 2011

Viajando no tempo ...

Por: F. Santa

V.CABRAL (AGORA LICHINGA) NOS TEMPOS DE HOJE:

A foto seguinte, mostra o nosso saudoso sargento Carvalhito, na companhia do Madureira. Nunca é demais lembrarmo-nos daqueles que foram nossos camaradas e que de repente o destino maléfico da guerra retirou do nosso seio. É pena que não possamos ter a foto de todos os que já nos deixaram para que pudessem estar na galeria do nosso site. Era bom que fosse possível. O sargento Carvalhito era o militar, o homem e o camarada de guerra com quem podíamos contar, embora desempenhasse principalmente funções de secretaria. 




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E agora, mais uma do nosso convívio.
Em primeiro plano, julgo ser o nosso camarada José Rodrigues de Castelo Branco. Reparem nele:  Já no currículo (não tenho a certeza ...) dois AVC e continua a vir aos nossos convívios com uma força de vida extraordinária. Para ti, um até para o ano onde todos voltaremos a estar.

A seguir, é mais uma vez o nosso camarada João Rodrigues. Do que está com ele, não me lembro do nome. Já agora, aproveito para dizer que estive no passado domingo em Ançã com o J. Rodrigues e a mulher. Ele também dança  e canta no Rancho de S. Estevão, lá da terra dele. Veio participar num festival de Ranchos.



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  Aqui (outra do convívio) está o nosso alferes SOARES, conversando com um careca. Quem é? O nosso amigo e camarada alferes Magalhães. De frente, é a minha mulher e o meu neto. 
 

Olá,  Braga! Espero que o meu amigo já tenha o seu computador novo a trabalhar para poder entrar em contacto com a malta. Cá ficamos á espera. De contrário, e como falámos, manda-me as fotos que eu depois devolvo-tas. 


Para todos, um abraço do Santa.

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01 junho 2011

TROPA FANDANGA !!

No texto do Santa de há uns dias atrás a que chamou "Um poema.... e 3 fotos" fui surpreendido, numa delas,  ao dar comigo sentado na lateral  do unimog, em Lione, de saída para Vila Cabral (?).  Mas o mais impensável, e daí chamar à cena tropa fandanga, é verificar que o homem dos códigos, das cifras, das criptografias, tinha nas mãos uma poderosa G 3 para defender todos aqueles atiradores "especiais" à minha volta. Realmente aos 20  anos ainda brincávamos aos "cow-boys" como se fossemos crianças!
Ainda mais gozada, acho eu, hoje mais do que nunca, é a história da minha companheira inicial, uma linda pistola-metralhadora  FBP, a quem  cresceu uma mama redondinha e que foi assim:
Como era das normas, aos militares com a especialidade de operadores cripto era-lhes atribuida como arma de defesa (?) a ligeira FBP (construida na Fábrica Braço de Prata-Lisboa, daí o seu nome) de 9 mm e carregador de 32 munições. E não a habitual e  pesada G 3, pois a missão dos criptos era canalizar todas as suas "energias" para o intelecto de modo a que este "parissem" sempre mensagens decifráveis. Ou seja, os criptos tinham mais em que pensar do que andar aos tiros! 


                                   Vejam como era linda a minha 1ª companheira

Acontece que, certa tarde em Lione, num intervalo da nossa guerra, eu e o amigo Moreira (sempre o Moreira, até faz lembrar o D.Quixote + o Sancho) decidimos ir dar uma volta até às "machambas" da aldeia e  lembro-me bem de ver altos e verdejantes milheirais tratados pelas mulheres nativas.
E, para nos defendermos (?) dos imprevistos, lá puzémos as armas ao ombro, eu a FBP e ele a robusta G 3.
Neste voltar ao passado até me questiono: É pá e se, de repente, déssemos de cara com o "inimigo", o que fariamos?  E sorrio, pois sei que os que me estão a ler respondem prontamente: "F...-..  deitava mas é as metralhadoras fora e pernas pra que te quero"!!
Continuando o passeio pela zona das machambas há uma altura em que deparamos, parece-me, com uma pequena lixeira com latas e garrafas de cerveja. Aquilo foi telepatia de micro-segundo, colocámos os alvos a jeito e, em marcha a ré como faz o Ronaldo quando se prepara para marcar os livres, foi "fogachada" até doer os timpanos.
Não me perguntem quantas vezes carreguei no gatilho, se foi tiro a tiro ou de rajada, se foi só um ou mais carregadores. Já não me lembro. Sei que ficámos tão felizes como se estivessemos na Parede ou no Porto e, assim, regressámos ao posto de transmissões e respectivo anexo.
Até que um dia, eis senão quando, durante a habitual inspeção às nossas companheiras feita pelo Sargento Carvalhão (o velhote da Ca.) para ver se estavam bem limpas e lubrificadas por dentro e por fora de modo a não nos deixarem mal quando delas precisássemos este, num raro momento de lucidez,  conseguiu descobrir que a minha FBP, a meio do cano, tinha um papo enorme e redondinho que mais parecia uma "próstata" dilatada!
Foi o bom e bonito, o velho Sargento "lateiro" quiz dar uma de disciplina militar e vai daí disse: "Tás bem f.....  pá!  Arranjaste a bonita, vais levar uma porrada.  Vou-te levantar um processo disciplinar e nunca mais te safas.   Para já vais ter que pagar uma arma nova ao Estado".
Eu, que não estava a perceber  "patavina" daquela conversa parva, com toda a assistência em redor (foi no cimo das escadas à entrada da secretaria), tendo o "secretário/amanuense perpétuo" Dimas Teixeira Pinto a escrevinhar a ocorrência, perguntei: "Mas ó meu Sargento a que papo se refere que eu não vejo nada?"             E, quando ele apontou para a dita deficiência, disse-lhe incrédulo: "Mas ó meu sargento, eu pensava que este papo era feitio de fabrico  jamais, em tempo algum, tinha dado pela diferença!".
Resposta pronta pois, acho eu, agora, ele demonstrava algum nervosismo, talvez  por ainda não se encontrar  no seu estado de normalidade: "Qual feitio qual carapuça. Levas uma porrada e assunto terminado".
Final da história, no meio dos medos e pseudo-coragens em que viviamos: Não levei porrada nenhuma, antes pelo contrário até fui louvado (ver caderneta militar que tanto me enche de orgulho!!), não indemnizei o Estado (se o tivesse que fazer acho que teria "bazado" para o inimigo por falta de verba para pagar tal objecto) e, para substituição da minha 1ª companheira aleijada foi-me atribuida uma robusta e pesada G 3, a fim de continuar a disparar para o lado que estivesse virado!

Sarg.Carvalhão em pleno exercício do poder. Estaria já a analizar no RDM a tal "porrada" a aplicar?
(Foto cedida por M.Soares)       














           Caderneta militar - Louvor acima referido que me enche de imenso orgulho