23 junho 2010

24-06-1969 Saudosa Homenagem

ao nosso

JOAQUIM MARCELINO
caído pela Pátria há 41 anos



Não fosse o trágico falecimento deste inditoso Companheiro, seria esta uma história pitoresca da nossa primeira noite de S. João passada em Moçambique, iluminada pelo fogo de artifício da Frelimo, com as rajadas de balas tracejantes riscando o céu do Luatize sobre as nossas cabeças. Mas quis o destino que ficasse como uma recordação muito amarga para todos os camaradas da CCAV 2415.





21 junho 2010

NÃO ESQUECEMOS OS NOSSOS HEROIS

Por : F. Santa

    Depois de termos lembrado no nosso Site a tragédia de Moçambique e da Guiné, não é mais que uma homenagem aqueles que nelas pareceram ao serviço da Pátria e assim deram a sua vida no auge da sua juventude. Queríamos nós que alguém das mais altas esferas se lembrasse destes acontecimentos e não sermos só nós. Sendo assim, peço licença para fugir um pouco das nossas histórias de guerra para aqui falar sobre outra homenagem que foi feita este Sábado passado (dia 20) e que nos toca a todos nós, deficientes ou não deficientes, a todos em geral, mas como tem sido costume, nas televisões nada aparece e nos jornais muito pouco, talvez não sejamos já motivo de interesse, mas se estivesse alguém mediático tal já não acontecesse! 
   Os Deficientes Das Forças Armadas e mais alguns combatentes que se associaram a nós, homenagearam a Força Aérea Portuguesa na Base Aérea de Sintra, pelo seu papel salvador na guerra do Ultramar, esteve presente o Comandante da Força Aérea, General Luís Araújo que tem uma cruz de guerra por salvar um piloto abatido debaixo de fogo com o seu “ Alouette “ e ser atingido por mais de 40 tiros tendo salvo ainda mais camaradas nossos. Foi um daqueles que lutou connosco na guerra pondo também a sua vida em perigo, sabendo por isso dar o valor que todos nós merecemos. De uma simpatia extrema, sempre esteve ao nosso lado até aos dias de hoje, tendo elogiado todos aqueles que deram o seu melhor pela Pátria deixando esta frase: “ Nunca deixaremos ninguém na picada, qualquer que seja a picada”. È de homens como este que a nação precisa. Já agora quero também dizer, que ao longo destes anos tem posto o Hospital da Força Aérea ao dispor de todos nós , combatentes. Foi bonito estar com pilotos dessa altura bem como com algumas enfermeiras que no mato foram umas heroínas. Muitos deles e delas trouxeram muitos camaradas á vida, ás famílias, a Portugal. Quem não se lembra do “ T6 “ e do “ Barriga de Jindung “ o famoso “ Noratlas “? Pois eu tive a sorte de estar dentro de um que está exposto no museu da base e relembrar a minha evacuação de V. Cabral para Nampula com as peripécias que atrás já contei.

Camaradas. E porque não? Vamos aqui também deixar a nossa gratidão  á Força Aérea, pela dedicação e desempenho no salvamento de todos aqueles que dela precisaram. São destes valores, que muitas vezes os nossos governantes se esquecem como nada tivesse acontecido, mas para nós a memória é eterna.

   Mudando agora de cenário. É com alguma nostalgia misturada com um pouco de saudade (palavra bem portuguesa) que olhei para as fotografias do Lione. Ali estão aquelas paredes guardando dentro de si para memória eterna, todo um passado de cada um de nós. Parece que ainda estou a ver as camas todas alinhadas, com a roupinha lavada (digo eu) e a balbúrdia que era dentro daquelas paredes quando estavam todos e as cervejas do “ Asinha” já tinham acabado!!!! Naquele local estão pedaços da história da nossa Companhia, história essa que cada um de nós já contou aos filhos e com certeza aos netos e vai levar até ao último dia das nossas vidas.
 
Agora vou estar ausente até ao dia 2 de JULHO. Depois falarei sobre Massangulo. 

Até  lá um abraço para todos do Ex. Furr. Santa.


20 junho 2010

Massangulo



Alguém conhece o "Pires O "PIRES...............................RIO TINTO" ?



Ilha de Moçambique (1970)




21-6-69 Não esqueceremos os companheiros

DANIEL VIEIRA VICTORINO
e
JOSÉ FERREIRA OLIVEIRA
no quadragésimo primeiro aniversário do seu Sacrifício

Pereceram no desastre de Mopeia (juntamente com uma centena de militares), na travessia do Rio Zambeze. Tinham sido destacados para conduzir viaturas a patir de Lourenço Marques com destino ao Niassa.
Na homenagem de há um ano, foram aqui publicadas ou referenciadas várias matérias sobre este trágico acidente, que poderemos reler.
Nesse ano (a 5 de Fevereiro)  já a Guiné tinha tido a sua tragédia muito semelhante, com cerca de cinquenta náufragos: trata-se do chamado desastre do Cheche, no rio Corumbal, na sequência do abandono de Medina do Boé:
Era a companhia de Caçadores 1790 que estava em retirada de Madina do Boé, e homens de outras companhias tinham vindo em apoio desta grande operação. Tropas, viaturas e todo o material de guerra percorreram os 22 quilómetros da picada entre Madina do Boé e Cheche, já na margem do rio.
Chegados ali, começaram a transpor os 200 metros de uma margem à outra em duas jangadas, na tarde de 5 de Fevereiro de 1969. Fizeram-no vezes sem conta, passando 28 viaturas pesadas, mais 100 toneladas de munições e equipamentos, três auto-metralhadoras Daimler e cerca de 500 homens. Ao início da manhã de 6 de Fevereiro, só restava na margem sul um grupo de homens: dois pelotões da companhia de apoio 2405, outros dois da que estava em retirada. Seriam 100 a 120 homens.
Entraram todos na mesma jangada, que passou a levar o dobro da sua capacidade de segurança. A meio do rio, a jangada adornou para um lado e atirou vários homens à água, balançou para o outro e cuspiu outros tantos. Carregados com a espingarda, a cartucheira à cintura, as botas, muitos afundaram-se como pregos no rio, pacífico na estação seca, de Novembro a Maio. Sem gritos, sem esbracejares. Naquele momento, a dimensão do acidente passou despercebida.
Só quando a jangada chegou à outra margem se percebeu a tragédia. Faltavam cerca de 50 homens (quase todos da metrópole). Este acontecimento ficou conhecido como o desastre de Cheche.
(Transcrito do site da Associação APOIAR)

18 junho 2010

Lione, a 17 de Junho de 2010

O nosso amigo CLÁUDIO FERREIRA, que trabalha em Moçambique, em Lichinga, continua com a sua amabilidade, enviando fotografias de alguns locais onde estivemos e de que temos inúmeras recordações. Aqui fica um agradecimento público e é sempre com agrado que vou inserindo aqui as "novidades visuais" que chegam de tão longe e de de sítios que nos são tão familiares.







16 junho 2010

DESABAFO

Por: F. Santa



     Quando decidi escrever estas palavras foi para desabafar e não para contar mais uma das histórias de guerra, mas pela ausência das mesmas. Sinto que existe uma tremenda falta de vontade por parte dos camaradas em entrar neste nosso cantinho a que eu chamo “cantinho da saudade”. Porquê? Não sei responder. Ninguém é obrigado. Só sei que entre nós deveria existir uma amizade diferente de todas as outras. Fomos companheiros e amigos durante a guerra em condições especiais: de tristeza, angústia, incertezas e de ausência familiar. Confortámo-nos muitas vezes uns aos outros, foi tudo demais para agora se perder no tempo. Sou daqueles que penso que a amizade é um dos valores da vida. Para quê toda esta conversa? Perguntam vocês. Ela tem uma razão de ser. A falta de colaboração dos camaradas. Ainda tenho presente o nosso último convívio, episódios de guerra contados por todos e fotografias mostradas por alguns e tantas promessas feitas com o envio das mesmas para este nosso “cantinho” mas, como se costuma dizer, depois de um mês passado, só promessas!!!! Espero que me não levem a mal por escrever estas linhas, mas é a força e o meu querer para que a nossa amizade não acabe. Agora que estamos no resto das nossas vidas, é nesta altura que precisamos mais dela.
   Sendo assim, prometo que não volto mais a tocar neste assunto deixando o mesmo à consideração de cada um, que o nosso “cantinho” não morra pois pela parte que me toca quero ver se a “ corda “ não parte pelo meu lado.
    Para terminar este texto, aproveito para relembrar os que estiveram neste último convívio e lembrar e informar aqueles que não estiveram, que o próximo 43º aniversário por unanimidade, volta a ser em Coimbra. Deixo desde já aqui um apelo: Já que não colaboram no nosso “site” apareçam em força, pois é com uma alegria imensa que os recebo cá e lembrem-se de uma coisa, é um camarada e um grande amigo que vos escreve. Poderia eu também baixar os braços e desligar-me do nosso “site”, mas isso era já admitir a derrota antes do jogo acabar! Espero que mais alguém pense como eu e com mais ou menos dificuldade me ajude a que essa derrota não aconteça. Nós que até temos no nosso Guião a palavra “AUDACIOSOS” vamos agora perder o significado que ela encerra? Pela minha parte acho que não. Audaciosos até ao fim, proponho eu.
   Acho que desabafei parte da minha desilusão, faço votos para que no seio de nós todos alguém de boa vontade me ouça. Como disse, não mais voltarei a lamentar-me sobre este assunto e peço desculpa se fui ousado demais.

Olá Castro! Cá estamos nós a “regar” o nosso “ site” como de uma flor se tratasse para não secar!!!! Acabei agora de ler o teu texto e gostei. Um abraço para ti. 

Para todos, deste vosso camarada e amigo, um grande abraço do Ex. Fur. Santa.
     

Ilha de Moçambique

Duas vistas aéreas da Fortaleza de S. Sebastião, na Ilha de Moçambique, onde alguns de nós passamos dias que são inesquecíveis, na minha opinião.
Estas fotografias foram enviadas de Moçambique e foram tiradas há cerca de um mês.

Luatize no passado dia 14 de Junho de 2010

Estas fotografias foram enviadas de Moçambique e foram tiradas durante uma passagem por Luatize, no passado dia 14 de Junho.



O 10 DE JUNHO DE 2010

Não estava no País neste Dia de Camões, pelo que só hoje presto homenagem ao POETA ... publicando a foto do exemplar dos LUSÍADAS que me acompanhou em Moçambique, e que líamos e comentávamos (parodiando, naturalmente...) sobretudo no Lione!!!


Entretanto soube que as comemorações de Faro tiveram algo de inédito, tanto no notável  Discurso do Doutor António Barreto como na participação no desfile dos nossos camaradas veteranos, pelo que deixo aqui a ligação para esse texto, bem como para uma reportagem do desfile (da RTP).

13 junho 2010

Heróis do nosso tempo

Alguém conhece este "entrapado" ??




Todos nós temos os nossos heróis, isso acontece logo em crianças com os rambos, os "Ches" e muitos outros. Normalmente há até os que entendem o próprio pai como seu herói principal.
Eu tenho alguns, já tive os que atras menciono e hoje tenho mais um, o meu amigo, melhor o meu Grande Amigo Moreira, ex-1ºcabo radiotelegrafista da 2415.
A nossa amizade iniciou-se quando alguém, megalómano, se lembrou de juntar uma centena de rapazes ingénuos na parada de C7 na Ajuda e nos obrigou a entrar no porão do barco mais à mão na Rocha Conde de Óbidos e rumar a Moçambique. 
Foi uma amizade fácil, crescendo dia a dia, pois logo sentimos que iriamos precisar um do outro, tanto nos bons como nos maus momentos. Eramos o que se pode dizer em Transmissões "uma grande equipa de dois", de modo algum querendo menosprezar os restantes elementos que muito estimo.
Impôs-se naturalmente desde o 1º dia na Ajuda, durante a viagem, passando por Lione, Luatize até ao fatidico momento do rebentamento duma mina no "unimog" onde ele seguia.
Nessa altura estavamos sediados em Tenente Valadim recém-chegados de Luatize (acho eu), à espera de fazer rumo para outras paragens. 
Num desses dias, mais precisamente a 30.10.69, o nosso amigo Meira mandou preparar um pelotão para fazer uma picagem até Luatize onde iriam entregar mantimentos ao pessoal lá aquartelado. E, como nada destas coisas têm explicação, lembrou-se de levar como radiotelegrafista o Moreira, coisa rara de acontecer, uma vez que era chefe de equipa e normalmente nunca saiam para o mato (se eu estivesse no lugar do Meira se calhar também queria comigo os melhores!).
E a desgraça aconteceu, o Peniche e o Corado (aqui habitualmente homenageados) nos deixaram para sempre, bem como um enfermeiro do CCS do Batalhão, havendo alguns feridos graves, entre eles o Moreira que diz lembrar-se de ter sido "cuspido" até ao alto das árvores e depois cair e ficar preso debaixo do "unimog", enquanto o radiador lhe despejava em cima toda a água fervente, sem se poder libertar, deixando-o com queimaduras  terriveis de ultimo grau, desde o peito até às pernas.
O resto todos sabemos como era: Despachado para o Hospital de Nampula que o recambiou de imediato para o de Lourenço Marques onde o prepararam e alindaram para o 1º Boeing o levar até à Estrela.
Esteve lá durante muitos meses, onde lhe chegaram a prever a morte.
Lembro-me de ter lá mandado os meus pais e irmã visitá-lo, porque ele sendo do Porto não tinha ninguém à mão para uma eventual ajuda. Assim o fizeram, mas logo recebi noticias pedindo que os desobrigasse daquela missão, pois era muito penoso e dificil olhar e falar com o Moreira com os seus 39 kg de peso. (Actualmente quando falamos nisso, ri-se tranquilamente, como se nada tivesse acontecido. Julgo que é preciso ser-se grande de espirito para assim entender).
Acontece até que com todas aquelas mazelas que lhe marcam o corpo, se necessário, "despudoradamente", exibe-as como um "troféu" de guerra!  É o cumulo da ironia!
Desde há 1 ano, por nos tornarmos vizinhos, encontramo-nos mais assiduamente. Garanto-vos que tem sido um enorme privilégio conviver com ele, tem-me ensinado a ver e a entender certas coisas da vida por outros prismas que até agora não me ocorriam. Acima de tudo porque tem um sentido humanista inigualável, raro hoje em dia, depois porque cultiva a solidariedade duma forma simples sem cobranças.
Felizmente que voltei a reencontrar o Moreira, assim se provando que aquela guerra estupida também deu os seus bons frutos
Obrigado  Padrinho!! 












01 junho 2010

Destino: LISBOA !

Por: F.Santa


 
Olá  amigo e camarada Meira! Lembra-se deste “Avião”? Julgo ser o 707. Pois eu lembro-me muito bem. Foi nele que viajámos de Lourenço Marques para o “puto” quando tivemos aqueles dias de férias ao abrigo já não sei de quê! Lembra-se quando esta geringonça passou num certo e determinado sítio e abanou por todos os lados e a senhora que vinha ao nosso lado chorava e rezava? Tal era o medo, e a gente……. Bem!!!!! Eu aqui só não me lembro bem se viajámos nele desde a Beira ou L. Marques.
Lembro-me ainda vagamente quando passamos a noite no hotel aquando da ligação do voo de V. Cabral para  apanharmos este bicharoco! Dormimos em quarto duplo e cada cama tinha um rádio na própria cabeceira. Foi um espectáculo!!!! Se tiver a memória mais fresca que a minha pode contar melhor esta história.  

Eis também dois postais da Beira que foram comprados na mesma altura. Servem para recordar...



Um abraço para todos. Ex F. Santa