28 junho 2020

A MEMÓRIA...

Passados cinquenta e um anos, as memórias da comissão da 2415 na guerra colonial em Moçambique, continuam bem presentes. Sempre que se lembre de uma efeméride, todas as lembranças vêm à nossa mente. O nosso cérebro, em todo o tempo que lá passámos portou-se como uma autentica máquina de filmar. Filmou tudo ao pormenor e pôs no seu arquivo onde muitas vezes vai buscar as coisas  e reproduzir como bem entende. Ainda agora, cinquenta e um anos depois, ele lá foi buscar e recordar a tragédia de Mopeia (no rio Zambeze) onde morreram cem companheiros nossos entre eles, dois da 2415. Estava eu na altura em Vila Cabral (agora Lichinga) quando recebemos a notícia do trágico acontecimento. Foi tremendo o impacto da mesma em todos nós bem como em toda a família militar na altura em V. Cabral. Foi um sentimento de revolta. Já não bastava  as mortes e os feridos em combate e morria-se assim num acidente estúpido que não podia  nem devia ter acontecido que acabou por ser o maior desastre da guerra colonial. Ainda me recordo, no dia seguinte, assistir à missa na Igreja de V.Cabral por alma de todos eles. Foi um momento de dor e ao mesmo tempo de sofrimento interior a quando da homilia feita pelo celebrante.Muitas lágrimas caíram naquele momento. Acho que nesta altura, a minha companhia já se estava a preparar para deixar Lione e ir mais para o norte para uma zona de intervenção onde a guerra era ainda mais intensa e onde teve mais mortos e feridos.
Eu fiquei sozinho algum tempo em V. Cabral à espera de ser evacuado para o Hospital de Nampula. A partir daqui, nunca mais tive contacto com a minha companhia.
Foi como tivesse deixado uma família. Mas a vida é mesmo assim. Deixei uma família mas ganhei outros amigos na caminhada que fiz pelos hospitais. Amigos e amigas. Diga-se!
E é assim. O tempo vai passando, e é o passar do tempo que faz a história das coisas. É o desfolhar as folhas da história por onde adamos, que faz com que estejam presentes no nosso dia a dia os episódios nela contidos.
Dentro da rotina do nosso dia a dia, há sempre um flash ó mais de uma destas páginas, pois mais que queira-mos elas são desfolhadas. Vejam: eu lembrei-me sem querer, que neste mês de Junho quando estava por lá, tinha acontecido qualquer coisa que não tinha sido nada bom. Mas, no Domingo passado, de repente (lá está) um flash! Tinha feito cinquenta anos no Sábado (até baralhei um pouco a data) do então desastre de Mopeia. Assim como esta situação, vêm sempre outros acontecimentos. Todas estas coisas funcionam como um despertador. Todas estas memórias só serão apagadas do nosso cérebro quando ele avariar de vez! Muitas destas memórias têm afectado pela negativa a vida de muitos camaradas nossos, pois têm passado a vida em hospitais para ver se a sua vida se torna melhor mas as vidas de alguns...
Já agora, por falar em hospitais. É lamentável o que se está a passar no Hospital Militar de Coimbra. Estão a acabar com todas as consultas. Mais uma machadada em todos aqueles que dele precisam. Par onde vão agora? Claro, para os privados. E os que têm prótese? Ó vão a Lisboa ou ao Porto. Mas claro, para a elite tudo continua. Pois: não há dinheiro! Faz falta para o Novo Banco e não só...

             É melhor ficar hoje por aqui, e desejar a todos uma óptima semana com muita saúde. Protejam-se! 

                                                                      SANTA

22 junho 2020

FAZ HOJE ...

Faz hoje cinquenta e um anos. O nosso blog não podia esquecer está triste efeméride. Era Sábado. Na travessia do Rio Zambeze, (Moçambique) entre Chupanga e Mopeia, eram quase dezassete horas, quando o Batelão S.Martinho, transportando camaradas da Guerra se afundou causando 100 mortos alguns feridos e fora aqueles ainda que ficaram traumatizados para toda vida.
Foi uma das grandes tragédias (se não a maior) da nossa guerra colonial. Lembramos aqui este dia com angústia o acontecimento. Se a memória não me falha, morreram dois companheiros da 2415. Para todos os que pareceram neste acidente, PAZ ÀS SUAS  ALMAS.

           SANTA

19 junho 2020

ABRIRAM AS GAIOLAS!...

Pois é. Abriram as portas das gaiolas e aí está o resultado. A passarada em plena liberdade e as consequências estão a ficar à vista. Claro, não me estou a referir aos pássaros pois estes parecem ser mais inteligentes que alguns seres humanos mas sim, a gente sem respeito e educação, que faz tudo para para não cumprir a lei é pôr em perigo o resto da população. No meio disto tudo, faço uma pergunta.: Onde está a lei? Sim, porque à uma lei que pune quem não cumpre as regras de confinamento. Será que vai ser aplicada a esta situação de Lagos? E a outras que possam eventualmente virem a seguir? Ou serão só para ficar no papel como tantas outras! Esta gente só lá vai com medidas pesadas . Os que cumprem, merecem respeito e não podem estar à mercê destas situações. Querem voltar para trás? É esta estupidez que está na mente destas pessoas? Pois no meio disto tudo, quem sofre na pele com estas atitudes é quem trabalha e que têm o seu ganha pão em risco.
Não me vou alongar mais. Só espero, é que daqui algum tempo não se leve as mãos à cabeça e não estejamos outra vez todos tramados!
Vá lá. Haja respeito. Haja cumprimento das leis. O fim do vírus está nas mãos de cada um de nós!

Um abraço
                   
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   SANTA

11 junho 2020

Eleições..... (De Copacabana-RJ/Brasil ao Bairro do Inguri-Angoche/Moçambique)


Atravessou-se na minha memória, repentinamente, numa manhã de Outubro do ano passado. Foi, assim, enquanto tomava o pequeno almoço a televisão de Moçambique, que por vezes sintonizo, ia debitando noticias sobre a campanha eleitoral para presidente da republica, deputados e autarquias, assim a modos como 3 em 1 (bem que deviamos aprender alguma coisa em economia). Diziam eles que a campanha até nem estava a correr mal de todo, tirando alguns confrontos que resultaram em 49 mortos, coisa de somenos, digo eu, pois o êxito, tudo indiciava, iria ser grande. E foi, a adesão às urnas foi a maior de sempre e, ainda por cima, ganhou a FRELIMO (nossos adversários à 50 anos. Lembram-se?), salvo erro, em todas as frentes. 
Bem, a dado momento ouço o "pivot" das noticias a falar duma confusão em Angoche (ex-A.Enes), mais precisamente na mesa de voto do Bairro do Inguri. Acreditem, pasmei a ouvir o nome, creio que todos ainda nos lembramos que durante os meses que lá permanecemos a vida até nos correu de feição, era lá que aos fins de semana, e não só, a malta se "desbragava" em grandes "marrabentadas e batucadas" mais as galinhas "á cafreal" (o camarão já era demais!!) empurradas pelas 2M e Laurentinas. Ah! e já agora, também se devem lembrar que, por não se cumprir o horário do recolher, havia sempre esteiras ou enxergas onde pernoitar.
E foi precisamente neste local que o maior especialista em "desenfianços", falo do enfermeiro, o Zé Miro (do Porto), um dos tipos mais espertos e malandrecos que a companhia teve, apareceu a tempo inteiro. E fê-lo porque encontrou o que gostava de fazer: cantar. Descobriu uns civis que se distraiam tocando umas guitarras eléctricas debitando horrores de decibéis, enquanto o nosso Zé Miro tentava imitar os "Morandis" da época com "non son degno de te" e outras que tais, fazendo as nossas delicias naquele bar/restaurante.
Segundo a televisão a dita confusão havida na mesa de voto diz ter sido protagonizada por uma mulher que demorou demasiado tempo na cabine de voto e de seguida queria enfiar na urna uma mão cheia de boletins préviamente preenchidos que levou para o interior por debaixo da "capulana". Óbviamente, tamanha ilegalidade não lhe foi permitida pelo presidente da mesa e, por isso, a votante foi ao exterior do local de voto chamar dois filhos que, surpreendentemente, tentaram dar uma sova no infeliz que abandonou a mesa a toda a pressa. A policia foi chamada ao local  e a mãe e filhos foram "dentro".
Este episódio burlesco faz-me lembrar, por analogia, mas ao contrário, o acontecido com meu pai e que, resumidamente, é assim: Foi nas eleições de 1958 (julgo que únicas até ao 25 de Abril) para Presidente da Republica, com 2 candidatos, o Gen. Humberto Delgado e o Alm. Américo Tomás. No dia da votação nos Paços do Concelho o meu pai queria depositar o voto na urna, só que a pessoa do outro lado tirou-lho da mão informando que depois lá o colocaria. O meu pai não se conteve e agarrou-o pela gola enquanto logo 2 GNRs aos empurrões o obrigaram a sair da sala.
Passados poucos dias surgiram, repentinamente, à nossa porta 2 figurantes da PIDE, só que o meu pai, de sobreaviso por forças solidárias na época, não ficou à espera das habituais visitas de cortesia e pôs-se ao fresco para o Brasil. Com ajuda de familiares lá instalados pirou-se com a minha mãe para aquelas paragens. 
Passados alguns anos fui ter com eles à cidade maravilhosa (era) onde passei a adolescência a estudar e a frequentar a praia de Copacabana, cheia de encantos!
Dali, e num espaço de mais alguns anos, a gentalha que governava mal Portugal, lembrou-se de meter o Bairro do Inguri na rota da minha vida.
   

07 junho 2020

MAS QUE GRALHA!...

Com certeza já deram por ela! Pois é. O Cérebro já está a ficar cansado. É que no próximo dia 9 já  passam a contar 75 anos! Sendo assim, ontem fez 50 anos e não 49 que foi a véspera do meu casamento. Julgo que já se divertiram com a gralha mas tudo faz parte da vida e o humor também.

Um bom domingo para todos.

                                                          SANTA

06 junho 2020

RECORDAR...

Hoje Sábado. Um sábado cinzento por vezes ameaçando chuva. Sentado ma marquise do meu jardim, fitando as árvores beijadas por uma brisa que as fazia baloiçar, as recordações de certas coisas desfilavam no meu cérebro . E sem saber bem porquê, veio-me a lembrança do meu amigo e companheiro da 2415: Carlos Silva que já nos deixou à muito tempo. E como é bom recordar, eu fui encontrar uns versos que ele fez a um grande amigo seu chamado: Alberto.
É nestes pequenos detalhes que por vezes se nota nas pessoas o que a alma delas têm de bom. E por vezes não à nada melhor que a poesia para expressar tal sentimento. Sendo assim, do nosso saudoso camarada Carlos Silva, aqui vai um poema com o titulo:

             " FIQUEI INCONSOLÁVEL POR NÃO TER
                            CHEGADO A TEMPO"


     Já te vi empalidecido
    Sobre a pedra deitado
   Parecias adormecido
  E antes tivesses acordado

  Fixei-te no meu olhar
    O cabelo te afaguei
  Só faltava falar
 Perplexo me emocionei

  Porque olhas para mim
 Se me não podes rersponder
  Não faças comigo assim
 Que estou triste de morrer

  Tinhas a vida por um fio
  E eu que não acreditei
 Depois senti um calafrio 
Quando sem ela cntigo dei

 Já não respondeste à chamada
 Quando a aurora por ti bradou
  Nem ao toque da alvorada
Que o galo de manhã cantou

  Quando a morte te arrebatou
  O que mais me custou, Alberto
 Foi quando a gente te depositou
Naquele canteiro de terra coberto

 Deixaste-me sem te despedir
  Não merecia tal desfeita
 Parece que estou a sentir
Aquele aperto de mão direita

Ó morte que o ceifaste
 Sem dó nem compaixão
Ceifa a angústia que deixaste
  De cortar o meu coração.

                                                  CARLOS SILVA

 E é assim. Já como dizia o poeta: Recordar é viver, aqui recordei o nosso companheiro através mais um poema de sua autoria.
E já agora, e mais uma vez recordar é viver, faz hoje 49 anos que estava a fazer os preparativos para o meu casamento, e sendo assim, pela lógica, faço amanhã 50 anos de casado. E esta? Hoje posso dizer que é uma boa recordação. A vida tem altos e baixos mas ao longo destes anos todos eles foram moldados para que o casamento durasse até hoje e vá durar até ao fim das nossas vidas. Amor e compreensão mútua tudo aliado ao respeito entre os dois, é uma das receitas para que o casamento dure.

                        Pronto. Por hoje é tudo. Espero que estejam todos bem e uma boa semana que se aproxima especialmente com muita saúde.

     Um abraço para todos
                                 
                                                         SANTA