31 outubro 2009

SAUDADE

(por:  F. Santa)

Saudade. Palavra que segundo dizem, foi inventada por nós portugueses e só nós a sabemos interpretar. Saudade, pela parte que me toca é o que sinto quando me vem à memória as nossas aventuras por terras de Moçambique com todos aqueles que compartilharam connosco. Ontem fez anos que os nossos camaradas PENICHE E CORADO ficaram para traz. Uma guerra sem sentido deu-lhes como prémio uma morte cruel e sem piedade levando-os do nosso seio não podendo hoje compartilhar os nossos convívios nem este cantinho onde nós depositamos todas as nossas lembranças. Estamos a entrar em Novembro, mês em que se celebra o dia de todos os santos (fiéis defuntos) eu não queria deixar esquecer todos aqueles camaradas nossos que pareceram dando a vida pela Pátria. Respeitando a crença de cada um eu quero aqui deixar bem expresso a minha saudade por eles e que Deus os tenha em bom lugar. Todos eles foram nossos companheiros, todos eles estiveram nos bons e maus momentos por que passámos, e todos nós fomos impotentes para os manter ao nosso lado, às famílias a nossa eterna saudade.
Eu sei que para alguns isto pode ser pieguice, também sei que para alguns isto não diz nada, mas para mim diz-me muito pois ainda hoje continuo a estar em contacto com a realidade e a realidade ainda hoje incomoda muita gente. Ainda no princípio deste mês um camarada nosso pôs termo à vida .Era aqui próximo de Coimbra. Sabem porquê? Viveu com stress de guerra desde que regressou do Ultramar, só há cinco anos é que foi a uma junta médica dando-lhe uma determinada incapacidade só que passaram cinco anos e não viu um tostão, tendo dificuldades na vida foi a solução que ele arranjou. Agora sei que já estão a dizer que o Santa é um revoltado. Pois neste aspecto sou. Passámos todos as “passas do Algarve” e fomos esquecidos e atirados para o lixo considerados já, impróprios para consumo.
Desculpem, mas este foi mais um desabafo meu. Não podemos esconder a realidade por mais cruel que ela seja e como já disse atrás, faz-nos bem desabafar. Para todos aqueles que pareceram que as suas almas estejam em paz.
Mudando de assunto: Continuamos a ser só meia dúzia que integram (eu chamo-lhe) o nosso cantinho, onde estão os outros? Moreira, Braga, Magalhães, Miranda, Madureira, o J.M. Vieira Rodrigues e outros. Será que não têm tempo? Não acredito! Faço um apelo para que colaborem e passem a mensagem a outros, este nosso espaço não pode morrer. Estive na passada quarta-feira ao telefone com o Vilas Boas, está muito desanimado com os problemas de saúde que tem e quase de certeza que alguns deles são “prendas” dadas pela guerra. Esteve a dizer que praticamente não sai de casa e sendo assim caminha para a solidão. Não vamos deixar, vamos contactar com ele de vez em quando e dar-lhe apoio, deixo aqui o contacto dele: 217601557. É assim que se vê a força da C Cav. 2415: saudade, amizade e solidariedade sempre!
Por hoje acho que já  chega, vamos todos para a água-pé e para as castanhas assadas e sorrir e tentar-mos ser felizes até ao fim das nossas vidas que a vida não está fácil.
                                              
                                Um abraço do tamanho do mundo para todos vocês
                                 deste vosso camarada: SANTA             




29 outubro 2009

30 - 10 - 1969 - Homenagem

 Aos nossos companheiros


JOAQUIM FRANCISCO RODRIGUES DA SILVA
(de Fonte Boa, Ajuda, Peniche)

e

AVELINO AUGUSTO CORADO
(de Paço, S.Bartolomeu dos Galegos, Lourinhã) 

no 40º. aniversário do seu falecimento em combate.


" Quando NT picavam a picada até Luatize e a cerca de 25 km de Valadim, rebentou uma mina na última viatura, um Unimog a gasolina, onde morreram os soldados Peniche e Corado e ainda um enfermeiro da CCS do Batalhão. Nessa mina ficaram bastante feridos mais 4 camaradas, entre eles o meu amigo Moreira, radiotelegrafista, que ficou todo queimado." ( Citando as palavras do camarada A. Castro, publicadas neste Blog em 13/5/09)



Bem-vindo , Vivaldo !!!!

O caríssimo   companheiro Nuno VIVALDO oferece-nos estas fotos da nossa actividade operacional.
Todos nos lembramos que, além dos serviços da sua especialidade (as injecções e os célebres comprimidos LM ), dava apoio na secretaria da companhia. Recordo-me da sua memória prodigiosa: sabia de cor os números mecanográficos de TODOS nós. Isto não é exagero: sabia mesmo o número (composto por oito algarismos) de cada um ! E devíamos ser à volta de centena e meia ! (Não sei se esta capacidade lhe foi útil na sua carreira no INE - Instituto Nacional de Estatística...)



Cabe aqui uma nota de louvor pelo seu empenho (com outros companheiros, nomeadamente o Comandante e o Baptista, que são os que me ocorrem de momento) na realização do nosso primeiro encontro, no David da Buraca!

23 outubro 2009

Ainda o "Suplemento Especial de Pensão"

(Por  F. Santa)
Amigo e Camarada Castro
Li o teu artigo sobre a choruda quantia que recebeste  dada pelo teu (amigo) Paulo Portas. Como vês já passas a ter uma vida melhor com tanto dinheiro. É  realmente uma vergonha.
  Nós não precisamos de esmola, precisamos sim é de um fim de vida condigno e não desprezados por aqueles que tinham obrigação de nos honrar como filhos de uma Pátria, Pátria que defendemos com a nossa vida e com o nosso sangue. Falaste e bem nos Def. das Forças Armadas. A maior parte deles vivem na miséria com autenticas esmolas dadas por mês, viúvas cuja pensão não dá para viver e grandes deficientes cuja saúde se agravou não conseguem aumento da sua pensão. Camaradas nossos que não sendo deficientes batem-se com o Stress de Guerra, ainda hoje alguns levantam-se de noite e andam aos tiros pela casa, gritam por camaradas que viram morrer sendo as suas mulheres o seu suporte, outros que pela água que se bebia e por aquela que se enxugava no corpo, pela comida e outras coisas mais hoje sofrem no corpo os males causados por uma guerra para à qual fomos sem ter culpa. Somos dos poucos países (se calhar o único) que os seus governantes não souberam honrar os seus combatentes. Ainda ontem
assisti a um programa de televisão onde esteve presente uma irmã de um camarada nosso que esteve na Guiné, morreu lá em combate e por lá ficou enterrado. A sua família chorou estes anos todos sem ter um corpo para velar, foi preciso a irmã tratar de tudo para descobrir o sítio onde ele estava enterrado, com ajuda da Liga dos Combatentes da Grande Guerra. Este veio. E os outros quatro mil?
 É assim amigo Castro. O dinheiro faz falta para o TGV e para o Aeroporto e dar aos senhores dos bancos e aos nossos governantes reformas milionárias aos combatentes da guerra do Ultramar umas quaisquer migalhas chegam pois já estamos na idade de ir desaparecendo do mapa! Não somos trapos velhos, somos homens que quando jovens deixámos para traz família, mulher, noiva, amigos e alguns o emprego e ir obrigados para uma guerra que não era nossa.
Isto que escrevo aqui, é mais um grito de revolta que ecoa pelas linhas que atrás escrevi e que poderia ser muito bem proferido por milhares de deficientes, milhares de viúvas, milhares de órfãos e muitas famílias de muitos outros, os desaparecidos. Reavivar na memória das pessoas os horrores da guerra não é mais que prestar homenagem a todos aqueles que combateram, aos deficientes e aos mortos que pagaram com o seu sangue o preço de uma guerra causada pelo poder do fascismo.
Por hoje, este meu desabafo já me deixou um pouco mais aliviado pois hoje sou um dos revoltados com tudo o que se passou e continua a passar, mas no fundo é bom estes desabafos!
   
          Castro: espero que o galo já não esteja muito rijo! Um grande abraço para todos os camaradas da 2415.
                                              SANTA

18 outubro 2009

AQUARTELAMENTOS DE MOÇAMBIQUE, de Pedro Dias




PALAVRAS PRÉVIAS


Quanto às razões que nos motivaram a escrever sobre a Guerra do Ultramar em Moçambique, já tudo foi dito em obras anteriormente editadas, pelo que não queremos repetir-nos para não cansar os nossos leitores, uma vez que têm uma “árdua tarefa” pela frente, que é percorrer os cerca de 225 300 quilómetros qua-drados, tantos quantos dizem respeito aos Distritos do Niassa e Zambézia, base deste nosso trabalho.
Contudo, seria imperdoável da nossa parte, não prestar alguns esclareci-mentos que a serem omitidos, levariam, porventura, a quem nos lê, a interrogar-se. Porquê de novo os Aquartelamentos do Niassa, se estes já foram abordados em 2002?
A razão principal, deve-se às solicitações de militares que prestaram a sua comissão no Niassa e que nos motivaram a escrever sobre o mesmo tema.
Quando nos debruçámos sobre os Aquartelamentos do Niassa que foram publicados em Número Especial da Revista Batalhão, da qual fomos responsáveis durante 15 anos, fizemo-lo em moldes diferentes daqueles que, posteriormente, utilizámos em relação a Cabo Delgado e Tete.
Assim, estimulados pelas palavras de incentivo recebidas, passámos, de imediato, do projecto à acção.
Deste modo, aproveitámos a oportunidade para agregar, neste livro, o Dis-trito da Zambézia, por sabermos que muitas Unidades, que cumpriram a sua mis-são em zonas de 100% de intervenção, eram transferidas para este Distrito com a incumbência de efectuar patrulhamentos.
Posto isto, iremos tecer umas breves considerações quanto ao conteúdo des-te trabalho, nomeadamente à forma como foi estruturado. Os dois primeiros capí-tulos são destinados aos Distritos do Niassa e Zambézia inserindo os aquartela-mentos, em cada um deles, por ordem alfabética de A a Z. Refira-se, que apenas constam os locais por onde passaram Unidades a nível de Batalhão ou Companhia e nunca aqueles que serviram de Destacamento, excepção feita a Miandica, cujas razões se encontram explícitas na própria página. Quanto às imagens, muitas de-las chegaram-nos em condições muito “envelhecidas”. Apesar disso, resolvemos não as excluir, por encerrarem dentro de si muita história que interessa dar a co-nhecer. Reproduzimos, também, por comparação e sempre que possível, imagens captadas recentemente nas “peregrinações” que muitos combatentes têm efectua-do aos locais por onde andaram há décadas.
Abordámos, ainda, no capítulo terceiro, a maior tragédia ocorrida durante a guerra do Ultramar, o desastre no rio Zambeze, uma vez que ele esteve também ligado ao Distrito da Zambézia.
Antes de finalizar queremos deixar uma palavra de gratidão a todos, sem exclusão alguma, com quem contactámos no sentido de obter fotos ou outros ele-mentos, quer escritos ou verbais, para a elaboração deste livro.
Fica também expresso, por antecipação, os agradecimentos a todos aqueles que nos irão contactar, depois de lerem o livro, dizendo-nos que tinham “imagens magníficas” deste ou daquele lugar…
O Autor


Sumário

Palavras Prévias 6

Instalações 7

PRIMEIRO CAPÍTULO - DISTRITO DO NIASSA
Mapa 13
América 14
Bandece 16
Belém 18
Candulo 20
Cantina Dias 22
Catur 24
Chiconono 28
Chiulézi 30
Cóbuè 33
Galgolíua 36
Ilha de Metarica 39
Lione 40
Litunde 43
Luatize 45
Lunho 46
Macaloge 49
Malapisia 53
Mandimba 55
Maniamba 57
Marrupa 61
Massangulo 66
Maúa 68
Mecanhelas 72
Mecula 73
Melulucas 79
Meponda 80
Metangula 83
Metarica 87
Miandica “Terra do outro Mundo” 89
Muembe 92
Muoco 95
Murama 96
Namicunde 98
Nanlixa 99
Nantuego 100
Nipepe 102
Nova Coimbra 104
Nova Freixo 108
Nova Viseu 111
Nungo115
Olivença 116
Pauíla 121
Rapala 123
Révia 124
Unango 126
Valadim 129
Vila Cabral 133

Sabias que no Niassa138

SEGUNDO CAPÍTULO - DISTRITO DA ZAMBÉZIA
Mapa 143
Alto Molócuè 144
Chire 149
Gilé 151
Ile/Errego 155
Mabo-Tacuane 159
Milange 161
Mocuba 163
Molumbo 167
Morrumbala 172
Quelimane 174
Vila Junqueiro 177

TERCEIRO CAPÍTULO
TRAGÉDIA DO RIO ZAMBEZE 181

Agradecimentos 188
Iconografia 189
Biografia 190


Os interessados podem contactar PEDRO DIAS pelo Telemovel 914631055 ou através do mail : mpdias@netcabo.pt
Cada exemplar custa 15 euros (quinze Euros) mais os respectivos portes

15 outubro 2009

Ridiculo!!

Sei que o "assunto", em si mesmo é, sem qualquer dúvida, polémico. E, por isso mesmo, muitos de nós não terão a mesma opinião. É quase tão "tabu" como aquilo que os portugueses apelidam de "guerra de África"! Os chamados "Quem de Direito" evitam, e de que maneira (sempre o fizeram) aflorar quaisquer questões que gravitem à volta de tão sério e gravissimo problema nacional. Que o digam a Associação dos Deficientes das F.A. e todos aqueles muitos milhares de ex-companheiros que, anónimamente e silenciosamente sofrem no espirito e na carne, inglóriamente, mas ainda, hoje, continuando a lutar contra os moinhos de vento!
Esta "vergonha" encapotada, inventada pelos conhecidos "poderosos das forças armadas" após o fim das guerras coloniais foi, genialmente, aproveitada pelos politicos que lhes deu continuidade até à actualidade.
O assunto, o problema, a questão,o caso, a "gafe", chamem-lhe o que quizerem, nem por artes mágicas irá desaparecer, acho até, que está imune a qualquer estirpe.
Infelizmente, um caso que já é ridiculo e, por ser anedotário, tornou-se hilariante, esta coisa que este ano lhe chamam "Suplemento Especial de Pensão" para os Antigos Combatentes (este epíteto até me lembra os meus antepassados que penaram na 1ª Guerra!!) que acima "escarrapacho". Verifica-se, então, houve alguém que entendeu pelos bons serviços criptográficos prestados à nação, durante 22 meses, aqui o vosso companheiro de "aventuras", este ano foi merecedor dum prémio de 100,00€ (não esquecer de fazer o devido desconto do IRS no valor de 8,00€. Assim o valor real do prémio é de 92,00€).
Só "lamento" não ter ficado mais 2 meses em Lione (zona de 100%) para agora poder usufruir de mais 50%.!!!
Não esquecer que este SEP foi capeado e chancelado no hemiciclo da A.R. de todos nós (Não é Sr. Prof. Dr. P.R. Anibal Cavaco Silva?)
Ditosa Pátria que tais filhos tem (Não é Poeta pedinte Luis Vaz de Camões?)

14 outubro 2009

HOMENAGEM AO MEU TIO

O título deste texto pode parecer-vos algo estranho. Porquê andar aqui a prestar homenagem a um elemento da minha familia? É simples, é que o meu tio foi nosso companheiro das mesmas "guerras" e "aventuras" durante a nossa permanência em Luatize. Era furriel e pertencia ao pelotão que o Batalhão de Tenente Valadim, tinha destacado para aquela zona, e que nos receberam quando lá chegámos.
Talvez haja ainda alguém que se lembre. Por isso, e pela obrigatória e sentida homenagem que aqui lhe quero prestar, indico os nomes, a saber: Fur.Azevedo (c/seta); Alf.Seabra (ao centro em baixo); Fur.Coimbra (ao centro em cima) e o "infiltrado" Castro (lado dir.). Falta ainda o Fur.Damas (julgo que era de Mira). Foram excepcionais comigo, sempre disponiveis para ajudar. Lembro-me até que me arranjaram umas instalações bastante impróprias, mas era o que havia (anos antes tinha sido o local onde guardavam sacos de farinha) para poder desempenhar a contento a arte da criptografia! Mas com umas boas lavagens e afastamento de milhões de roedores, aquelas ruínas transformaram-se quase num palácio!
Tudo gente boa e ainda me recordo da forma como foram inexcediveis no apoio que, dentro do possivel, tentaram prestar, noite adentro, ao infortunado Marcelino naquele fatídico 23Junho69.
Voltando ao meu tio Azevedo, é uma história igual a tantas outras, só achando graça, talvez por ser única, em todos os teatros de guerra do nosso império!!
Conhecio-o por mera casualidade, conforme podia não o ter conhecido! Acho que foi logo após a chegada a Luatize. Segundo os meus apontamentos foi no dia 22 de Junho 69. O nosso radiotelegrafista milagreiro Moreira, depois de lhe terem dado um casinhoto escuro e sujo, conseguiu instalar e sintonizar a muito custo aquela geringonça do radio, pois era hora da final da taça de Portugal em futebol entre Académica-Benfica (1-2). No meio do barulho ensurdecedor e de todas aquelas interferencias (assim a modos fundo dum poço) lá iamos conseguindo ouvir qualquer coisita, por vezes audível). Nessa altura aproximou-se de nós um furriel do pelotão "dos outros" e pediu licença para tb. ficar a ouvir o relato. Foi aí que o Moreira se me dirigiu, dizendo: "Oh Castro...........". E, fosse lá o "feeling" que fosse, logo de imediato o tal furriel se me dirigiu e indagou: "Eh, pá desculpa lá, mas tu chamas-te Castro? E de onde és tu, pá? Curiosamente, logo lhe respondi: "Sim, meu nome é Castro e sou da Parede, perto de Lisboa". Mais perguntas menos perguntas que agora pouco interessa, aconteceu qualquer coisa deste género: "Oh, meu querido sobrinho vem aos meus braços! Eu sou teu tio!!"
Por indicação dos meus pais, realmente eu sabia, assim como ele, que havia um sobrinho e um tio destacados em Moçambique, ao mesmo tempo. A curiosidade é que não nos conheciamos, nunca nos tinhamos visto. Ele morava em Albergaria-a-Velha e eu na Parede. Talvez a distancia e a independencia da vida de cada um de nós contribuissem para esse resultado.
Foi realmente algo "sui-generis" e muito agradável. A partir daqui estivemos 24h/24h em contacto directo, vivendo ambos os graves problemas que nos aconteceram e que são do conhecimento de todos. Lembro até que após a refrega do ataque a Luatize ainda lhe dei uma ajuda chegando-lhe granadas para o morteiro que ele, na zona da cantina, segurava nos joelhos
disparando na direcção que ele entendia que os "fugitivos" percorriam.
Após a nossa chegada à Metrópole, continuámos a nossa grande amizade, nascida em Luatize, e tinhamos contactos assiduos, apesar de morarmos em locais diferentes. Nos ultimos anos, desde 2002, passamos até a viver na cidade de Lagos. E foi aqui que passamos horas e horas a fio, descontraídamente, em franco convívio, falando sobre as "aventuras" passadas no Indico.
Infelizmente, mais precisamente em Julho deste ano, faleceu, precocemente, com 64 anos, de doença prolongada. Perdi um ex-companheiro, um grande amigo que foi sempre um grande Homem. Ainda acho isto muito estranho e sinto-me mais triste.
PAZ ETERNA A UM BOM HOMEM QUE FOI O MEU TIO AZEVEDO.

RETALHOS DE GUERRA (2)

(Por F. Santa)
   
Há pequenas coisas passadas na guerra que nos ficaram na memória. Episódios tristes e outros com um sabor mais alegre roçando o trágico e até a burla.
       Vésperas de uma coluna a V. Cabral. Aparece á noite na companhia o chefe da aldeia do Lione a pedir, se podíamos levar na coluna alguns aldeões para ir vender o milho a um armazém que existia para o efeito, quase junto ao edifício da Pide. O nosso Capitão depois de falar com eles lá autorizou a viagem.
        Era manhã cedo quando comecei a organizar a coluna, que era somente composta por uma viatura Berliet. Sacos e mais sacos de milho e toda aquela gente a querer ir o que duplicou a lotação, deixando-me um pouco preocupado. Depois de tudo acamado verifiquei que transportava uma pessoa com o filho ás costas a que chamava-mos o “Acordeão”, não sei se vocês se lembram. Partimos com normalidade, e logo percorrido meia centena de quilómetros, ouço uma algazarra na parte de traz da viatura e qual não é o meu espanto que vejo ás cambalhotas pela picada fora a dita pessoa com o “Acordeão” ás costas. Como é de calcular, fiquei preocupado com a situação pois eu era o responsável pela coluna e se houvesse ali uma morte eu estava metido num monte de trabalhos. Alguém se há-de lembrar desta história. Resultado: parei e qual não é o meu espanto, vejo a dita cuja levantar-se, o filho continuava ás costas, limpou-se do pó e subiu logo de seguida para a viatura, isto tudo sem qualquer ferimento em ambos!
Depois deste susto lá  partimos. Chegados a V. Cabral deixei-os ao pé do armazém para depois à tarde ir buscá-los, indo de seguida para o “Coelho” comer um franguinho de churrasco. Terminado o almoço tratou-se da papelada no comando e fui rapidamente para o armazém  para ir buscar o pessoal e não fazer a picada de noite. Quando cheguei o milho estava por pesar pois diziam que só o pesavam á noite o que eu estranhei. Aquilo não me estava a convencer. Entretanto a noite começa a cair e lá vieram ordens para pesar o milho, e o que é que eu descobri? O armazém não tinha luz e eles penduravam os candeeiros na balança decimal  o que logo á partida ia alterar o peso prejudicando quem o vendia e ainda não bastava o peso do candeeiro estes ainda tinham na base uma certa quantidade de chumbo! Levantei  logo ali uma zaragata tal que o milho foi pesado com os candeeiros fora das balanças. A partir daqui não sei se voltaram a pesar o milho da mesma maneira. 
Outra coisa estranha. Quando saia do armazém ao passar pela Pide vi estarem a carregar duas viaturas com “Turras”e perguntei o que se passava, disseram-me então que eram “Turras” que tinham sido apanhados no mato tinham sido interrogados e estavam a ser devolvidos novamente ao mato! Para quê? Respondo eu: para nos atacarem outra vez. Era o dia a dia da guerra no seu esplendor!
 
      Amigo Paulo. Dizes que não tens o meu contacto correcto. Sendo assim vou dar-te o meu contacto actual: 939440799 sempre ao dispor dos camaradas. 

                               Um abraço do Santa para todos. 






13 outubro 2009

A ADMINISTRAÇÃO EM CHALA

(Por A. Paulo)  
Atenção às fotografias !




     Quem se lembra do nome do Administrador de Chala?... E do nome do policia que está ao lado do Paulo e do Moreira?...
     Então vamos lá avivar a memória. Em primeiro plano, cabo verdiano de nascença, temos o administrador Correia Pinto. Ao lado e encostados ao pára-brisas da berliet, a minha pessoa, o furriel Martins e o Pais. Atrás, na segunda fila, temos o Olhanense, o Mareco e o cabo Mestre. Mais ao fundo o Romanito e o Graça, mais conhecido por “Asinha”. Tenho um gravador fantástico na minha tola, não acham?... Por sorte a tinta de esferográfica que escreveu, há 40 anos, os nomes no verso da fotografia ainda está visível.
     Mas, fotogénica, fotogénica está a nossa berliet MG-44-84, certamente a única que estava operacional na altura e na qual “gozamos” algumas horas com o cu tremido.
     O administrador era um durão com o pau na mão e o polícia que se chamava Pissarra, era muito “obediente” ao chefe. E mais não digo.
     Estes gajos, acompanhados dos seus milícias, rebentaram connosco quando fizemos a primeira operação a nível de companhia dentro do Malawi. Bolas...., que estafa.
     Ressalta aqui a boa colaboração que tínhamos com os referidos elementos, especialmente no fornecimento de patos, que o cantineiro Paulo cozinhava muito bem com caril, regados com umas boas bazucadas.
     Já  agora, quem foi o soldado que vendeu ao policia Pissarra por 1.000$00, o dente do elefante que estava morto perto da picada para Chala?...

     Um abraço do Paulo  

 .

11 outubro 2009

11-10-1969 -Saudosa Homenagem


ao inditoso companheiro

Henriques Rodrigues


que tombou há 40 anos


"Emboscada à nossa coluna na picada NViseu, quando vínhamos para Tenente Valadim. Eram cerca das 8 horas da manhã. Tivemos 1 morto o 1º cabo Rodrigues e 5 feridos graves."  (citação da mensagem do A. Castro, aqui publicada em 13/05/09 )


Será possível que alguem comente, indicando quem foram os feridos ? 



10 outubro 2009

“RETALHOS DE GUERRA”


(Por F. Santa)
A nossa memória já  não é aquilo que era, especialmente a minha que já  tem muitas falhas mas mesmo assim cá me vou lembrando de algumas proezas e acontecimentos.   Lembro-me agora, daquela célebre patrulha feita pelo meu pelotão desde Lione a Chala: Partimos de manhã cedo depois de nos equiparmos com as devidas rações de combate (que era a especialidade da casa) e do armamento de primeira qualidade como por exemplo, levar a “Basuca” que estava avariada  não disparava sequer, mas levava-se para fazer de conta e meter medo aos “Turras”. Lá partimos todos em fila indiana mato fora á procura de umas palhotas que existiriam no percurso e que segundo informações era habitada por terroristas. Á frente ia um batedor africano que mais ò menos nos indicava o caminho. A certa e determinada altura, ele manda parar baixa-se, põe um dos ouvidos no chão e diz: É já ali! Pois é, foi quase um dia para chegar ao local e encontrar ainda mandioca quente e nada mais. Chegámos tarde. Já sem água nos cantis lá continuámos o nosso caminho para Chala. A sede apertava. Eis que aparece um pequeno rio mas para desespero nosso não levava água, foi então que alguém do grupo descobre umas pegadas de elefante no leito do rio em que nelas se depositava alguma água, com as mãos conseguimos beber e soube tão bem como de cerveja se tratasse. Cai a noite e a dificuldade aumenta, a noite está escura (o que não era muito usual) e o trilho era difícil de encontrar, quando demos por ela estava-mos perdidos e segundo cálculos feitos em cima do joelho, já tinha-mos ultrapassado a fronteira para o Malawi. E agora? O milagre aconteceu, o gerador do Chala que não trabalhava todos os dias naquela noite trabalhou e ao longe lá se ouvia o “ta-ta-ta-ta-ta”da nossa salvação sendo a partir daqui a nossa orientação. Estava-mos quase a chegar e eis que o amigo Santa cai dentro de um buraco mas não me aleijei pois o dito buraco estava devidamente forrado por “Feijão Macaco”, suado da caminhada e cansado foi um final de etapa apoteótico. Resultado, tive que apanhar um banho de terra antes do banho de água receita do então administrador do posto de Chala.

Termino aqui o meu primeiro retalho de guerra, outros se seguirão. Fico contente pelo meu amigo Artur ter voltado e cá fico á espera do bendito “Galo”. Mais uma vez deixo o meu apelo para que todos os nossos camaradas entrem em contacto connosco. Onde está o Madureira o Afonso o Braga o Miranda e tantos outros? Apareçam! Estou convencido que as tirinhas de papel que foram dadas no nosso último almoço no Algarve com o nosso endereço, a maior parte perderam-nas e a única possibilidade agora é no envio de cartas para o próximo convívio.

 Por hoje termino enviando um abraço para todos.

                                                                                                       
                                                               Ex. furriel Santa 





09 outubro 2009

A AVIAÇÃO PRESENTE AO TEMPO


      Que máquinas?.... Quantas eram?.... O que faziam?.... 

(Por A. Paulo) 



      Lembremos hoje os meios aéreos que nos apoiavam nas nossas missões terrestres, com a apresentação de duas fotografias em que destacamos, primeiramente eu e os nossos camaradas da nossa CCav. e depois, como pano de fundo, um avião de carga e transporte de pessoal denominado NORATLAS, o mais barrigudo, e um avião de caça e ataque ao solo chamado FIAT, o mais elegante.
     Estas fotografias foram obtidas na pista militar de Vila Cabral, quando o nosso pessoal ali presente, se preparava, penso eu, para apanhar boleia para Tenente Valadim para se juntar ao resto da Companhia que se encontrava em intervenção em Luatize.
     Ora vejam a simplicidade do nosso camarada Moreira, que trajava à civil, como que a dizer-me que ele era o dono do avião FIAT, mas felizmente ou infelizmente não era dele nem era nosso.
     Este avião a jacto, (em número de dois para o distrito do Niassa e arredores), veio substituir no ano de 1969 o velhinho T-6, aquele mono-motor a hélice do tempo da II guerra mundial, que, quando em altitude, fazia um barulho próprio audível a quilómetros de distância. Graças a Deus foi este avião que  acidentalmente sobrevoou a picada de Tenente Valadim, quando rebentou a mina no Unimog da nossa CCav. e que foi buscar o helicóptero a Vila Cabral para transporte dos feridos.
     E quem não se lembra da avioneta DORNIER, mais conhecida por “DO”!?... Aquela que fez uns voos rasantes ao campo de futebol de Luatize e lançou os sacos com correspondência e carne para a CCav. 2415 que ali se encontrava há mais de três meses e que tinha como castigo fazer IAO (instrução de aperfeiçoamento operacional) por ordem do Com.Sec., pois não havia viaturas de transporte do pessoal  para descanso em Vila Cabral. Destes gajos ficou-me sempre na memória a frase: -“A berliet não é para transporte de pessoal mas sim de carga, as viaturas berliet compram-se e os homens requisitam-se”.
      Tínhamos ainda um helicóptero ALOUETTE III para o distrito do Niassa. Por acaso, às vezes aparecia quando era solicitado. Outras vezes ou estava avariado ou estava a rectificar o motor. Algumas horas perderam estas máquinas a sobrevoar a casa do governador Melo Egídio em Vila Cabral que tinha uma filha bela e moça. Lembram-se?...

Um abraço do Paulo

.

07 outubro 2009

Outubro negro...

... foi o de 1969 para a nossa Companhia. Três dos nossos companheiros ( o Henriques Rodrigues, a 11, o J. F. Rodrigues da Silva e o Avelino Corado, a 30) deixaram-nos. E, logo a seguir, a 6 de Novembro, foi o João Vaz dos Santos.
Vem sendo hábito deixar aqui uma referência de homenagem no aniversário dos nossos mártires.
Não possuo quaisquer elementos (nem sequer memória pessoal) destes tristes acontecimentos. Com certeza recordarão os meus companheiros que eu saí da Companhia pouco depois do ataque  do Luatize.
Nesse sentido deixo aqui este apelo: que quem se lembrar me envie por e-mail (manuelsoares46@gmail.com) ou por correio ( Av. Correios, 150     4775-446 NINE) relato dos factos ocorridos, e/ou, se possível, fotos (dos falecidos ou outras), para aqui serem publicados.
Aproveito para agradecer e louvar a tão preciosa e artística colaboração do Santa e do Paulo, sem a qual este site estaria definhando, como tantos outros...
Claro, não esqueço os iniciadores, o Magalhães e o Castro ! E o Afonso, com as fotos!

Manuel Soares 

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