30 setembro 2018

O MUNDO GIRA...

Já dizia o poeta: "O mundo pula e avança como uma bola nas mãos de uma criança" É bem verdade! Quantas voltas já deu o mundo desde Julho de 1968? São contas muito complicadas...
Muitas coisas já aconteceram neste mundo desde 1968 para cá. Nesta altura, (Outubro de 1968) eu Atirador de Cavalaria de 2ª classe, e de Metralhadora Ligeira de 1ª classe, era Vago Mestre em Chala por um mês! Sem ter feito nada para aprender esta especialidade, (o que sabia eu disto?) fui Vago Mestre! Vejam só! Já dizia o saudoso Fernando Peça: e esta em!!! Pois o verdadeiro Vago Mestre (o saudoso Madureira) estava em Lione. Além da dificuldade em aturar a malta (que queria boas ementas) já era difícil, então as condições de armazenamento dos "géneros alimentícios não era melhor. Numa tenda mal amanhada (como se costuma dizer), em cima de estrados de madeira e terra batida, ali estavam as latas, pacotes e sacos de vários produtos armazenados. Algumas latas, já com ferrugem no fundo tinham que andar... e alguns sacos já em mau estado era a mesma coisa. O que poderia acontecer? Logo se via. Eram latas de conserva com feijão, grão de bico, chouriço, dobrada, pacotes de massa , sacos de feijão, batatas e outros, se houvesse "ASAE" não escapava nada!!! Mas mesmo assim, tinha que chegar ao fim do mês com lucro! Para isso, tinha-se que apertar o cinto. Depois era ver a malta: que comer é este? Isto é comer que se apresente? É pá, isto não se pode comer! E eu dizia muitas vezes: É pá, eu não sou Vago Mestre. Tento fazer o melhor mas ainda assim, não estamos em nenhum restaurante de Vila Cabral, quem quiser vir para o meu lugar e fazer melhor eu agradeço. No fundo, a malta refilava mas compreendia a situação. Contudo, consegui ir até ao fim, mas hoje já não me lembro se dei lucro!!! À fome ninguém morreu...
Como vêm, a tropa empurrava-nos muitas vezes para coisas que não tinham  nada a ver com as nossas aptidões. Mas era assim: comer e calar!

Já agora, eu costumo dizer muitas vezes que a guerra ainda não acabou. É verdade mesmo. Ainda hoje somos surpreendidos por situações causadas na guerra que nos deixam incrédulos! Ora vejam. Chegou num destes dias à nossa Delegação em Coimbra da A.D.F.A. um camarada nosso para tentar resolver um problema de doença que lhe tinha aparecido à pouco tempo atrás. Já anda nos médicos algum tempo e nada.Foi então que um outro camarada o aconselhou a ir a um médico que passou muito tempo na Guiné (onde ele esteve também), podia ser que ele lhe disse-se qual era a doença e a causa da mesma. Pois bem. Assim aconteceu. Pasme-se! Eu não conhecia. A doença dele. Ele diz que tem o nome de "Pata de Elefante". É (segundo disse ele) derivada de uma picada de mosquito e que se pode revelar muitos anos depois. Meus amigos. Quando ele nos mostrou a perna doente (esquerda) nós não queríamos acreditar: era pata era a perna de um elefante que estava diante de nós. Eu falo por mim, desconhecia tal coisa. Viemos agora a saber que esta doença tem o nome de: Elefantíase ou Filariose. Julgo ser assim. Vamos agora tentar para que ele vá a um médico especialista para ver se ele consegue algo de melhor para o melhorar e assim ter um resto de vida mais digno.Como vêm a guerra ainda não acabou.  A sua génese  da morte, a sua génese de mutilar e de ferir, persegue-nos até ao fim da vida!

         Despeço-me de todos vós, desejando a todos o fim de um bom Domingo e uma óptima semana que se aproxima.

                                                                   Um abraço.
                                                                      SANTA

19 setembro 2018

MATIPA ll...

MATIPA. Mais alguns dias passados e chegava ao fim o pesadelo daquele lugar. Mais uma vez... faz hoje cinquenta anos que era posto fim á minha estadia em MATIPA! Depois de passarmos tanto tempo sem contacto com a companhia, e com tanta fome passada, eis que tudo acabou. Já não podíamos ver as salsichas nem o arroz. Andamos por trilhos sem conta onde era difícil encontrar água, chegamos a não ter ração de combate e ter que esperar pelo regresso, para as famosas salsichas com arroz! Eis que um dia, dois homens da minha secção começaram a sentir-se mal. Diarreia e dores de barriga. Claro que fiquei preocupado. Longe da Companhia sem enfermeiro e sem qualquer medicamento vejam a situação. Três dias passados lá fomos de rádio ás costas procurar um local onde o "menino" conseguisse entrar em contacto com a companhia. Depois de mais hora e meia de tentativas lá se conseguiu ouvir do outro lado a voz (se não estou em erro) do Afonso telegrafista. Depois de ter sido exposta a situação, era enviada de Chala, passado dois dias, uma viatura para nós escoltar para o regresso! Naquela altura, éramos homens abatidos, com fome, fardas em péssimo estado já para não falar da roupa interior!!
Os colegas doentes, foram depois para o hospital de V. Cabral ( agora Lichinga) onde chegaram á conclusão que a diarreia era culpa da água. Sendo assim, a água que usávamos era do rio logo imprópria para consumo humano. Entretanto, não podemos esquecer que alguns habitantes de Matipa andavam a ter os mesmos sintomas.  Da parte deles já não me recordo como foi resolvido. Também não me recordo se foi para lá mais alguém.
    Terminava assim a minha odisseia em terras de Matipa. O que me ficou de lá como recordação foi um colar feito de sementes que me foi oferecido pela mãe da jovem que fui buscar ao mato atingida por uma mina. Guardo ainda hoje esse colar. Também não esqueço a óptima relação que tivemos com a milícia local e os habitantes da aldeia.

Chegados a Chala, que bom foi tomar banho no rio que passava alguns metros do nosso aquartelamento.Que bom foi trocar de roupa interior! Para a minha secção Matipa tinha passado á história. Vim a saber depois que não foi
para lá mais ninguém. Julgo que foi assim. Mas outras aventuras se passaram...

Para todos, um grande abraço. SANTA.

    

12 setembro 2018

"TITANIC". Continuação...

Ora aqui vai o resto das fotos que tirei quando da minha visita à exposição sobre o "TITANIC"...




As fotos que se seguem são da réplica  do "Titanic" e mostram imagens de vários compartimentos feitas em corte. 



Uma das salas das caldeiras.







Um dos compartimentos de um dos motores.







Por hoje despeço-me de todos com um grande abraço.

SANTA

07 setembro 2018

SOBRESSALTO...

Sobressalto!... Algumas semanas depois da chegada a "Matipa" (faz agora 50 anos), e de já ter feito algumas patrulhas sem qualquer problema a não ser alguns tiros ouvidos algures no mato o que nos deixou sempre de ouvido e olho afinado, mas sem qualquer perigo para nós, estava-mos no dia sete ou oito de Setembro (já não me lembro bem), e depois de ter colocado quatro homens nos postos de sentinela, fui para a tenda com os resto dos meus homens para tentar descansar um pouco! No meio da noite, fiz a troca dos sentinelas. Rompia a manhã, como era hábito com toda aquela passarada a fazer barulho com os restantes animais da selva, levantei-me e fui ao rio lavar a cara para ficar mais desperto. Um dos meus homens, acendeu o lume para fazer um pouco de café (que além do arroz e as salsichas) era o único bem que tinha-mos mas já estava a chegar ao fim. As torradas eram uma miragem! No fim do pequeno almoço (se é que se pode chamar pequeno almoço) preparava-se o esquema para este dia. Mais algum tempo no nosso acampamento e eis que fomos apanhados de surpresa pelo Milícia da aldeia a gritar pois uma jovem tinha ido para a mata com outros membros da aldeia e tinha pisado uma mina. Lá fomos, depois de algum tempo, lá encontramos a jovem mas já não havia nada a fazer. Claro, estava já sem vida e o resto não digo mais nada... Fiquei chocado, fiquei não, ficamos todos pois era uma jovem com com muitos anos pela frente para viver e sem ter culpa da guerra. Assim como foi ela, podia ter sido um de nós se tivesse-mos passado por ali primeiro. Faz agora cinquenta anos mas recordo-me como fosse hoje. Foi um dia para esquecer.
 Nesta altura as coisas já não estavam a correr bem. O rádio continuava a não querer entrar em contacto nem com Chala nem com Lione. Nós, já não podia-mos ver as salsichas nem o arroz (todos os dias), e havia malta que já começava a entrar em parafuso! Como começava a ser difícil a situação. Mas o fim aproximava-se... A seguir vão ver porquê!

 (continua)


                                            Com um grande abraço. SANTA.

04 setembro 2018

RECORDAR...

É assim mesmo. Recordar! E recordar porquê? Porque no Domingo passado fui até ao "Exploratório" de Coimbra visitar uma exposição sobre o célebre e triste caso do "TITANIC".
Com esta, já é a terceira exposição que visito. Já visitei uma em Espanha na cidade da Corunha, e outra que esteve no Porto mas todas diferentes. Esta mais pequena mas com a maior réplica do "TITANIC" com trinta metros de comprimento vendo-se em corte o seu interior. É espectacular e ao mesmo tempo deslumbrante. Esta exposição, julgo estar patente ao público até ao fim do ano. Sendo assim, lembrei-me de partilhar com todos vós algumas fotos...


Réplica de uma das caldeiras do Titanic.







Elos da corrente da âncora original.


             Imagem original da sala das máquinas do Titanic. Um dos motores!

Proa do Titanic.

                  Imagem original de uma das chaminés do Titanic. Construção.
                              Placa informativa original da viagem do Titanic.

Vestido de renda com jóias e aplicação de uma passageira. Original.


Caixa original da adega Henri Abelé. Champanhe servido na 1ª classe do Titanic.

                          Anel original que pertenceu a Millviua Dean. Passageira do Titanic.


                                      Lavabos dos camarotes de 1ª e 2ª classes do Titanic.
                                            Cabine "MARCONI". Transmissões.




                                                     Duas fotos da réplica do Titanic.

 (Continua)

     Termino por hoje, com um grande abraço para todos. 

                                                                                SANTA.