07 setembro 2018

SOBRESSALTO...

Sobressalto!... Algumas semanas depois da chegada a "Matipa" (faz agora 50 anos), e de já ter feito algumas patrulhas sem qualquer problema a não ser alguns tiros ouvidos algures no mato o que nos deixou sempre de ouvido e olho afinado, mas sem qualquer perigo para nós, estava-mos no dia sete ou oito de Setembro (já não me lembro bem), e depois de ter colocado quatro homens nos postos de sentinela, fui para a tenda com os resto dos meus homens para tentar descansar um pouco! No meio da noite, fiz a troca dos sentinelas. Rompia a manhã, como era hábito com toda aquela passarada a fazer barulho com os restantes animais da selva, levantei-me e fui ao rio lavar a cara para ficar mais desperto. Um dos meus homens, acendeu o lume para fazer um pouco de café (que além do arroz e as salsichas) era o único bem que tinha-mos mas já estava a chegar ao fim. As torradas eram uma miragem! No fim do pequeno almoço (se é que se pode chamar pequeno almoço) preparava-se o esquema para este dia. Mais algum tempo no nosso acampamento e eis que fomos apanhados de surpresa pelo Milícia da aldeia a gritar pois uma jovem tinha ido para a mata com outros membros da aldeia e tinha pisado uma mina. Lá fomos, depois de algum tempo, lá encontramos a jovem mas já não havia nada a fazer. Claro, estava já sem vida e o resto não digo mais nada... Fiquei chocado, fiquei não, ficamos todos pois era uma jovem com com muitos anos pela frente para viver e sem ter culpa da guerra. Assim como foi ela, podia ter sido um de nós se tivesse-mos passado por ali primeiro. Faz agora cinquenta anos mas recordo-me como fosse hoje. Foi um dia para esquecer.
 Nesta altura as coisas já não estavam a correr bem. O rádio continuava a não querer entrar em contacto nem com Chala nem com Lione. Nós, já não podia-mos ver as salsichas nem o arroz (todos os dias), e havia malta que já começava a entrar em parafuso! Como começava a ser difícil a situação. Mas o fim aproximava-se... A seguir vão ver porquê!

 (continua)


                                            Com um grande abraço. SANTA.

1 comentário:

  1. Isto sim é guerra a sério, após 50 anos até dá para arrepiar. Nada de ficções e romances. Em frente Santa, puxa-me por essa excelente memória.

    ResponderEliminar