Finalmente ........... Chala e Lione
Após uma visita agradável a Vila Cabral (Lichinga) eis-me, de regresso, a caminho de Lione mas, com desvio obrigatório por Chala, já que ficava em caminho.
O curioso, na verdade, é que devo ser um dos poucos militares que nunca estiveram em Chala. Realmente, pode-se perguntar: Mas que raio lá ia fazer um cripto? Agora, aproveitei a oportunidade não só para conhecer mas também para vos poder informar o que vi.
Apesar de não ter conhecido, julgo que hoje Chala é outra coisa muito diferente. Sabia, pela malta de então, que era um local isolado, pacato, de pouco perigo e que estava em cima da fronteira com o Malawi.
Pois, agora, tudo se alterou, as populações que se refugiaram no país ao lado, durante a guerra Frelimo-Renamo, regressaram a Moçambique e, logo, se instalaram no Chala por ser a localidade mais próxima. Houve, a partir daqui, apesar de muito artesanal no âmbito da agricultura e, se acrescentarmos a isso, a localização da chamada segunda ou terceira fronteira entre aqueles dois países, algum desenvolvimento, principalmente grande aumento das populações.
Desse modo, aqui deixo as impressões sobre o que vi, não esquecendo a linda paisagem que disfrutei no trajecto a partir do desvio para Chala, bem como as dificuldades da picada, imaginando os enormes problemas por lá passados na época!
Desvio de Chala na picada de V.Cabral(Lichinga) para Lione
Aqui o inicio da picada para Chala, pomposamente chamada ER-Estrada Rodoviária 571!
Algué sabia que do cruzamento até à localidade são 42 Km?
Bela paisagem africana, floresta densa, zona de elefantes. A caminho de Chala, ao longe o Malawi
Outra bela imagem na picada para Chala
Entrada em Chala. Repare-se na iluminação da via pública. Acontece que o gerador não funciona por falta de combustível! Ao abrigo da amizade entre os dois povos, o Chefe da localidade ainda me pediu "auxilio" para a compra de gasóleo. Julgo que a preocupação dele seria outra que não iluminar a via pública!
Chala até passou a ter uma escola primária (pelo menos está anunciada devidamente)
Informação que me foi prestada pelo próprio Chefe Local, esta casa, no tempo colonial, era o Posto Fronteiriço (alguém se lembra?). Agora, além da sua residência, engloba também um serviço de assuntos fronteiriços.
E aqui temos uma fronteira à "maneira". Do outro lado da cancela é o Malawi, ficando o lago Niassa a escassos 6 km. Por falta de tempo não nos foi possivel ir até lá ver a sua beleza imensa. Por aqui também saem e entram muitas das mercadorias entre os dois países.
Este tipo de construção em chapa, a unica que encontrei em todos os locais que visitei foram, no nosso tempo, casernas que albergaram muitos militares, como a nós quando estivemos em V.Cabral na zona do aeroporto. Para mim, apesar de não conhecer, esta casa vem do tempo colonial, só achando estranho não ter sido desviada ou destruída nestes longos anos e ainda hoje se manter dignamente de pé!
Vê-se bem que por trás existe ainda uma enorme mangueira que, segundo um dos representantes da população também presente, existia no tempo da "tropa portuguesa".
Segundo informação do Representante da População, digno "madala"(idoso), muçulmano, que conheceu a tropa portuguesa disse que, debaixo deste enorme embondeiro(?), ficava a cozinha. Bem procurei pos vestigios, só encontrando uma ou outra fundação das paredes.
Despedida de Chala com a foto da "praxe" junto das várias Autoridades locais: Polícia, representantes da população e Chefe da localidade (abaixado), só faltando o militar responsável pelo posto fronteiriço (leia-se cancela) por não poder abandonar o local de vigilância!
Terminada a visita a Chala, pusemo-nos ao caminho. Lione esperava-me para um reencontro após 41 anos.
Antes de mais quero dizer que ao aproximarmo-nos de Lione sentia-me algo nervoso e intranquilo, como se da primeira vez se tratasse, o que é um pouco injustificável. Normal dirão uns, "pieguice" dirão outros! Já me interroguei a mim mesmo e não sei explicar tal atitude. Quem sabe, alguém com experiência semelhante, nos venha a explicar uma razão plausivel.
E, finalmente, aparece Lione, uma imagem ainda bem guardada e definida na minha memória.
Por estar tão bem definida é que sou obrigado a dizer que o "nosso" Lione já não existe! Óbviamente, refiro-me às instalações do nosso aquartelamento pois, simplesmente, desapareceram como por artes mágicas!
Nada mais resta a não ser as ruinas do edificio da caserna e, ainda, a base do monumento, tudo o mais desapareceu. Mas o mais espantoso é não ter ficado sequer uma fundação, uma parede ou uma simples pedra de alguma coisa. Nem um vestigio existe mais. É doloroso querermos olhar para coisas conhecidas e não as vermos mais quando pensávamos ir reencontrá-las.
Ainda, hoje, não consigo entender como desapareceram completamente o edificio principal dos oficiais e sargentos, os centros cripto e de transmissões, o armazem do vago-mestre, o forno, a casa do armamento (do Baptista), a cantina (do Azinha), a cozinha e a oficina-auto, uma vez que eram edificios, principalmente o dos oficiais e sargentos, feitos em tijolo e cimento!
A todos aqueles que indaguei sobre o assunto nada souberam explicar.
Todamaneira, em troca de impressões com o meu companheiro de viagem J.Gonçalves, chegámos à conclusão que, tirando o edificio principal e mais um ou outro, por serem de maior resistência, todos os outros de construção frágil feitos em tijolos de barro (matope), foram deitados abaixo pela população a fim de os aproveitarem para fazerem as suas novas palhotas no aldeamento.
Certo ou errado, o que me continua a espantar foi a realidade chocante que (não) encontrei no local. Só visto para acreditar.
Entrada em Lione vindo de V.Cabral (Lichinga)
Um pouco antes, à saída de Lione para V.Cabral, em vez da picada há uma pequena estrada alcatroada. Parece estranho mas é verdade!

Foto Mai/68 - Para confirmar e comparar aqui vemos a mesma "estrada" com a mesma curva ao fundo e tudo.
Ao fundo o aldeamento de Lione com algumas casas em tijolo e cimento. Á direita vislumbram-se as ruínas da caserna.
Veja-se a qualidade da picada!
Aldeamento + estádio de futebol. Vê-se bem a baliza daquele lado e a qualidade do "relvado" melhorou, está mais plano. Podemos perguntar qual o motivo porque este espaço não foi destruído. Para mim só há uma unica resposta: o futebol é universal e talvez seja um dos poucos elos que une os dois países!
O campo de futebol com a baliza do lado contrário. Aqui o terreno parece em más condições a fazer lembrar o do nosso tempo! Veja-se, também, a proliferação de palhotas a toda a volta do campo.
Mas, esta foto tem a finalidade de mostrar ao longe os dois montes juntos. Num dos ultimos almoços em que participei houve alguém que disse que certa vez, durante um jogo de futebol, fomos atacados com umas morteiradas a partir daqueles montes. Tenho uma vaga ideia do acontecido. Haverá alguém que saiba explicar melhor?
Foto Dez/68 - E aqui se prova à evidência que os mesmos montes já lá estavam bem definidos há 42 anos!
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(Foto do arq. do Vivaldo) - Bancada central do campo de futebol, na época, com assistência selecta! |
Não tenho palavras para descrever a minha emoção ao ver estas fotografiasde locais, já adulterados, mas onde passei alguns tempos que apesar de tudo recordo com saudade!
ResponderEliminarÉ fantástico ter quase tudo desaparecido! Mas ter encontrado o nosso monumento, ou parte dele, onde ainda se podem ler os nomes dos nossos camaradas falecidos, acho que valeu a deslocação a tão distantes locais e tão nossos familiares. Continuo a achar que uma viagem em grupo, dos que puderem e quiserem ir, será certamente uma experi~encia única na nossa vida!
Boa reportagem, que agora parece ter acabado................infelizmente!
Um abraço do Manuel Magalhães
"O descanso do guerreiro". É assim que termina, sentado numa aparente esplanada, com uma cola nos queixos, a actual aventura do nosso amigo Castro, a sua digressão pelas nossas terras de Moçambique. Não vejo o tradicional pratinho com as moelas de frango ou os apetitosos amendoins torrados, mas ele está lá. "O passado e o presente"?...Um pequeno esforço na mente e vamos ultrapassar essa barreira. Meto os "óculos do tempo" na ponta do nariz e regresso às origens, no tempo e no espaço, e vejo tudo. Está tudo lá. Langa, porta de armas, caserna, cozinha, etc. etc., e o monumento aos bravos. Aqui paro, tiro os óculos e a dor é a mesma. O tempo não apagou nada. Um abraço do Paulo.
ResponderEliminarCaro companheiro..
ResponderEliminarQuero informá-lo que também estive no Lione e no Chala em Outubro de 66 a Fevereiro de 68 e acabei a comissão no América junto ao rio Lugenda perto de Marrupa.
A companhia que me rendeu no Lione foi a 2327, simbolo que ainda hoje está na parede da caserna,mas foi por pouco tempo,e foram rendidos pela vossa companhia,2415.
Durante a nossa comissão ,não havia nada no chala,era só mato e tivemos muitos problemas a montar segurança a um pelotão de engenharia,com a abertura da picada até À fronteira.
Também já la estive,no Lione,em 2003 e 2005.
Aquilo já não é o Lione que nós conhecemos.
Já agora,estamos a preparar nova viagem em 2011.
Com os melhores cumprimentos
Severino Santos
Companhia de caçadores 1583
12 de Outubro de 2010
........!Ola amigo, muito embora não te conheça pessoalmente... mas posso-te adiantar que pertenci à c. caç. 3571; a qual foi render a tua companhia.
ResponderEliminarOlhar o local pelo mapa ( internet) ao ver o nosso cantinho destruído e desprezado... Enfim.
Pois bem amigo, desejo-te muita saúde, pois já que é ela a base fundamental da vida.
Um grande abraço para todo o pessoal que esteve em LIONE e nos arredores mais próximos.
A.MARTINEZ
Radio telegrafista da C. CAÇ. 3571
Boas é com prazer que volto a ver lione..infelizmente esta neste estado..
ResponderEliminarperetenco a companhia 2327 e gostava de saber se algume tem contacto com alguem da companhia 2327?
se tiverem envie m pra o meu email
rcsilva4515@hotmail.com
abraço camaradas
Antonio da Silva
Fui Furriel na 3571. Do Martinez.
ResponderEliminarFurriel Reis, açoriano
Sou o Goulart e também estive em Lione na 3571.Eu era do pelotão do alferes Ramos.
Eliminarok camarada.em que ano la estiveste'
EliminarEstive em Lione e chala 72/74furriel miliciano
ResponderEliminarFui furriel da c.caç 3571////1972/1974
ResponderEliminarTambém estive em Lione e Chala 72/74 Francisco Fonseca fur miliciano,um abraço
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