12 julho 2021

CARTA DE GUERRA

Vi aquela foto que mandaste,
Estavas tão bonita tal como me deixaste,
Daqui eu vou directo pro altar,
Aqui a vida vai boa diz no jornal,
Apenas sinto a falta de um dia normal,
Quando a farda era só pra te conquistar,
Tantos poetas de armas na mão,
Gastam palavras deixam sobrar munição,
Mas de vez em quando.....
Eu já só quero ir pra casa pra ti,
Eu já só quero ir pra casa pra ti,
Pra ti...
.....................
Sabes que não sou homem que reze,
Mas sinto comigo as tuas preces,
Olha que se eu voltar é pro altar,
É uma terra bonita ias gostar,
Talvez um dia voltes comigo a visitar,
Se algum dia esta guerra nos deixar.
Tantas mulheres de linha na mão,
Mas só há uma Maria pra este João,
E de vez em quando....
Eu já só quero ir pra casa pra ti
Eu já só quero ir pra casa pra ti,
Pra ti....
                                   (Bárbara Tinoco)

A suavidade e o conteúdo desta canção não pode deixar ninguém indiferente, principalmente a nós ex-combatentes toca-nos de frente.
Impossivel, por isso, não aproveitar este momento, para voltar a homenagear aquelas que foram nossas esposas, companheiras, namoradas e até madrinhas de guerra.  A letra da canção fala duma história veridica.. da Maria a quem a guerra levou para o Ultramar o seu namorado.. o João..que até tinha um certo jeito para a escrita. 
Acho que todos as Companhias tinham um "jeitoso" desses... Quem não se lembra, na nossa, do já falecido  Carlos Silva que até livros de poemas compôs e nos deixou?
Mas, antes de mais, a minha satisfação em acreditar que muitos dos nossos descendentes, enquanto vai chegando ao fim o nosso tempo, não pensam deixar cair no esquecimento a guerra que nos "lixou", principalmente aos nove mil e tal mortos... e milhares e milhares de deficientes para o resto da vida.
É aqui que queria chegar... à BÁRBARA TINOCO ... passei a ser fâ incondicional.. excelente voz... juventude, inteligência e irreverência. é uma artista de alma cheia.. vai longe no panorama do nosso musical. E, bem merece, com tamanha sensibilidade. 
A história é bem simples: é neta da Maria e do João e, certo dia, quando os visitava, descobriu um molho de cartas trocadas entre ambos.  Tal e qual como todos nós e nossas companheiras que ainda guardamos ou já tivemos molhos de cartas iguais.
Segundo ela, após a leitura de algumas, começou por entender uma guerra que até ali lhe tinha sido indiferente... por pouco ou nada escutar da mesma.. Então, resolveu ir directa ao assunto, pegou numa carta do avô João para a avó Maria, deu-lhe uns "toques" e musicou-a.. assim nascendo da maneira mais pura e simples a canção: Carta de Guerra.
Fala, também, numa entrevista que deu no ultimo 25 de Abril e quis, desta maneira,  prestar homenagem aos seus avós e a todos aqueles que foram obrigados a vivê-la.
Bem haja... tem a nossa admiração.

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