Ainda me lembro da partida. Meio-dia em ponto. O “Vera Cruz” apitava três vezes ecoando pelo Tejo fora e começava afastar-se do cais da rocha ao mesmo tempo que se fazia ouvir o Hino Nacional. Lenços brancos, chapéus da cabeça, lágrimas e gritos era o cenário dado por aqueles que viam partir os seus filhos, os seus maridos os seus namorados, os seus irmãos e alguns mais pequeninos viam partir os seus pais sem entenderem muito bem toda aquela cena, fazendo ainda parte deste leque de emoções os amigos. Era uma partida com bilhete de ida pois o de volta era uma incerteza. No barco todos empilhados como “sardinha enlatada” lá fomos desbravando o oceano até costas de Moçambique. No “Dek”do navio ainda me lembro das sessões de ginástica para estarmos em forma., da hora do almoço e do jantar que foi talvez uma das melhores coisas da viagem, e daquela célebre “orquestra” que a gente formava tocando cada um o seu instrumento, que pertenciam ao salão de festas do barco. Seria música o que agente tocava? Cá para mim era música desconhecida de autores desconhecidos! Lembro-me dos peixes voadores brilhantes como prata saindo da proa do barco, dos tubarões no golfo da Guiné fazendo escolta ao nosso barco e ao mesmo tempo aproveitando os restos de comida que eram lançados ao mar, da bela Baía de Luanda e daquele desfile em Lourenço Marques todo ele cheio de aprumo e beleza. Chegados á Beira, lembro-me da visita que eu e mais alguns fizemos ao “Moulin Rouge” (julgo que é assim que se escreve) a um restaurante chinês onde se tinha de comer sentados no chão e com pauzinhos, quem conseguiu não sei, lembro-me ainda da chegada a Nacala e da confusão para a entrada do comboio que nos iria levar até Catur parecendo o “Transiberiano” . Daquela chegada a Lione já noite dentro todos cheios de pó com lenços a tapar a boca, o nosso primeiro “passeio” de Lione para Chala e a minha primeira aventura “ Passeio no desconhecido”, para Matipa. Quem se lembra do casamento em Lione? Da visita do M. da Educação (não sei se era) do Malawi a Chala? Aqui só me lembro da grande bebedeira que alguns apanharam neste dia. E do Norberto? Que foi mais tarde parar à nossa companhia e que em Chala levava a cafeteira do café (cheia) para o posto de vigia do lado do rio, e cantava fados de Coimbra toda a noite para afastar o medo?
Tudo isto e muito mais dava para uma longa-metragem. Quem se lembrar disto e quiser completar mais alguma coisa está à vontade, pois como eu costumo dizer: Lembrar è viver! Até á próxima.
Um abraço para todos
Santa
As fotos referem-se a : Sala de estar do Vera Cruz; Destacamento de Matipa; e Casamento do Paulo (cantineiro em Chala) com a filha do Langa. Como sempre, podem ser "clicadas" para ampliar.
Temos cada coisa em arquivo. Nem me passava pela cabeça que tinhas sido o "padrinho" de casamento do nosso cantineiro Paulo. Era óptimo que o resto da malta desse uma pequena contribuição com o envio de fotografias ou histórias sobre os passos da nossa CCAV. Será que temos coragem de compilar todos estes momentos informáticos?
ResponderEliminarQue grande "enciclopédia" iria dar. Já agora diz ao afilhado Paulo que me mande uns caixotes de mangas de Chala que eram excelentes. Um abraço-
CCAV2415 "OS AUDACIOSOS"
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Após mais este belissimo e tão bem contado trecho sobre a partida e chegada da nossa ida à "guerra" apetece-me, antes, chamar-lhe:
CCAV2415 "OS AUDACIOSOS ROMANCEADORES!!
Amigo Santa, uma vez mais agradeço-te por mais este belo momento virado ao nosso passado. Sempre que leio as "coisas" que aqui "pespegas", bem como o Soares, o Magalhães (há muito tempo) e o Paulo, sinto-me como um actor dentro do próprio filme!
Imaginem só se mais pessoal viesse aqui colaborar, contando as mesmas (há sempre algo a acrescentar) ou outras das milhentas "histórias" que ainda há para contar no nosso pequeno mundo?!
Reparem no que diz o Paulo: "Que grande enciclopédia iria dar" !!
Estamos a dar os primeiros passos, que são os mais dificeis, titubeantes até, mas assim todos queiramos, para chegarmos o mais longe possivel, levando debaixo do braço uma humilde obra intitulada:
"CCAV2415 - OS AUDACIOSOS ROMANCEADORES" - Vidas atribuladas dum punhado de homens que foram à guerra num país banhado pelo Indico.
Caro Paulo,
ResponderEliminarNa sequência do seu comentário de 5/11, lamento constatar que o seu homónimo Paulo do Chala já não pertence, infelizmente,ao mundo dos vivos. Acabo de receber "mail" do (ex-Capitão) A. Amado em que refere textualmente: « O Paulo não sabe que o meu afilhado Paulo foi morto logo a seguir à independência. Por isso já não pode enviar mangas...»
É sempre gratificante, para nós que colaboramos no blog, saber que há gente que nos lê e que marca presença.
Um abraço.