17 julho 2009

A VACINA

Por Ex-Furr. Paulo


“Quem não tem a vacina não pode embarcar”, diz o nosso doutor, em
exclusividade, camarada furriel Vale.

Esta é a história da vacina, não sei se da varíola ou outra análoga,
que nós todos tínhamos que sofrer na pele e que deveria constar do
nosso boletim de sanidade para podermos regressar à Metrópole.
O frasco ou frasquinhos da mesma, devidamente “acautelados” pelo
nosso camarada Vale, já rebolavam há bastante tempo pelo frigorífico,
que primava pelo seu mau funcionamento, existente no nosso
aquartelamento em António Enes.
Dentro do prazo ou fora dele, eis que chega o dia da célebre vacina.
Para nos injectar, foi convidado pelo camarada Vale, o nosso vizinho
Doutor-Médico, que morava ali ao lado do nosso aquartelamento. Aquele
que tinha uma mulher mais gorda que magra, mais antipática que
sociável e que deu um tiro de pistola de 9mm à nossa macaca-cão,
ex-libris da nossa Companhia, por ter saltado para o quintal da dita
cuja.
A infeliz, toda ligada, gemia como os humanos. Os macacos também choram.
Voltando à vacina.
Como não havia os tais aparos especiais ou objectos apropriados para
dar a mesma, o Sr. Doutor-Médico pediu um recipiente para despejar a
vacina e um bisturi para introduzir na pele a mistela medicinal.
Nestas coisas, o nosso camarada Vale nunca se atrapalhava. Era uma
espécie de McGiver.
Passou por água um pequeno pires que ali estava na sua secretária e
que servia de cinzeiro e foi buscar um bisturi ao seu armário de
primeiros socorros.
Depois foi um ver se te avias. Começou a molhar o bisturi no pratinho
e a cortar os nossos braços com três ou quatro incisivos golpes, em
cadeia e sem parar, e introduzir “suavemente” a famigerada vacina,
formando-se então uma mistura de sangues no pratinho da vacina onde o
Sr. Doutor-Médico “molhava” o seu improvisado utensílio. E assim
continuou até terminar o seu trabalhinho. Graças a Deus todos
embarcamos dentro das NEP’s.

A moral da história?!... Somos todos irmãos de sangue. Será que foi
aqui que a maior parte de nós foi infectada com a bactéria dos
“apanhados”?

Presto aqui a minha homenagem ao nosso camarada Vale – Uma fotografia
do meu album.



Ex-furriel Paulo







3 comentários:

  1. Obrigado, Paulo, por esta história que eu desconhecia, tanto a da vacina como a da infeliz macaca... Creio que me safei dessa, andava por outras guerras! A sua prosa é bem saborosa, todos esperamos por mais!
    Um abraço.

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  2. De férias na zona entre o sul da europa e o inicio de áfrica (Vêem a África sempre nos nossos caminhos?!), já há algum tempo que deixei os gozos das leituras saborosas, que o nosso "amado e surpreendente" blog CCAV2415 nos proporciona. Hoje passei por cá e é com todo o agrado que constato a chegada de mais um romanceador, o nosso ilustre amigo Paulo. Aliás, já lhe tinha dado as boas vindas em texto anterior.
    Sim, senhor, por mim merece já as 5 Estrelas!
    Adorei a crónica, está divinal.
    Num próximo encontro, quem sabe trocarmos ideias sobre a edição de um livro de crónicas! Que tal camaradas Soares, Magalhães, Santa, Paulo, Comandante, Meira, Madureira, Dias, Dimas, Moreira, Baptista, Gil, Afonso e todos os demais?? Claro, não esquecendo a principal a da, eventual, viagem às origens!
    Mas, tantos outros que poderiam também se tornar contadores de curiosas histórias.Porque é que o resto da malta não aparece?? O amigo Soares já há dias, num comentário, apelava, melhor, implorava quase, para uma pequena, que fosse, contribuição de todos de modo a não deixarmos morrer este sério e lúdico espaço/convívio que retrata só uma época considerada os melhores anos das nossas juventudes! Vamos lá pessoal, agora já não estamos em guerra, e por isso todos se podem oferecer para a manutenção do blog.
    Voltando à hilariante história da vacina: Que é feito do Vale? Era um tipo porreiro, tenho saudades do seu estilo. Quem é que ajuda a encontrá-lo? Que eu saiba não faz parte dos contactos da lista. Como agora se diz na gíria futebolistica: Seria uma grande aquisição trazê-lo de volta ao clube!!

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  3. Onde está o Vale?...
    A última vez que o vi foi em Coimbra(Santo António dos Olivais)numa casa mesmo em frente da igreja dos Olivais. Hoje essa casa está ocupada por uma creche. Já não me lembro se foi o Vivaldo que me deu a direcção ou se o encontrei acidentalmente, pois eu passava ali com frequência para um T1 que tenho nas redondezas e que os meus filhos ocupavam no tempo de aulas. Actualmente não sei onde se encontra. Um abraço.

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