25 julho 2022

LEMBRANÇAS DA PARTIDA PARA MOÇAMBIQUE - 23 de JULHO 1968

Continuamos todos com a guerra na lembrança // o tempo passa e a memória não esquece // os meses somam-se uns aos outros // não foi assim há tanto tempo como parece. Éramos jovens felizes com ambição// de repente tudo muda na nossa vida // tínhamos a tropa como companhia // e a vida mais amadurecida. De um momento para o outro tudo se desmorona // chegam-nos os rumores da guerra // era lá longe muito longe // mas de nós o medo se apodera. Assim esperávamos assim aconteçeu // a guerra chegou  como era de esperar // fomos todos mobilizados // e a familía tivemos que deixar. Fez agora cinquenta e quatro anos // o tempo passa e não pensa em parar // mas a memória  não esqueçe // vinte e três de Julho 68 tivemos que embarcar. O Vera Cruz estáva à nossa espera // no cais lenços brancos e gente a chorar// meio dia o Vera Cruz partia // e nós não sabíamos quando voltar. Um de Agosto de 68 a Luanda chegámos // tudo nos parecia mentira // desembarcámos e à cidade fomos passear // partíamos para uma nova vida. E assim a viagem continuava // oito de Agosto a Lourenço Marques chegávamos // o cheiro de África chegava até nós // e na Praça da Catedral desfilamos. No dia seguinte Lourenço Marques deixamos //á cidade da Beira fomos parar //  pouco tempo lá estivemos // e  voltamos a embarcar. Treze de Agosto 68 chegávamos a Nacala // aí o Vera Cruz nos ia deixar// parecia que estávamos a sonhar // pois num comboio íamos embarcar. Pois era verdade podem crer // depois de algumas horas de espera // aquilo que parecia mentira // lá entramos no comboio pra guerra. Ao final da tarde o comboio partiu // a nossa viagem aqui começava // uma viagem bem atribulada // que no nosso blog já foi contada. Quinze de Agosto 68 uma quinta-feira // era fim de tarde e a noite já nos abraçava // chegava ao fim uma viagem para não esquecer // o comboio á estação do Catur chegava. Estávamos á porta da guerra // em viaturas uma nova aventura começou // no meio da noite e um pó tremendo // por Manssangulo a 2415 passou. Foram quase setenta quilómetros de picada // era assim que a nossa guerra começava // todos com fome e empoeirados // de madrugada a 2415 ao Lione chegava. Mais uma vez era o princípio de uma nova aventura // em Moçambique dois anos íamos ficar // mas o nosso pensamento era com vida e saúde regressar. Daqui para a frente // o que se íria passar? // numa guerra estávamos // nenhum de nós podia adivinhar.

 No fim, todos soubemos o que passamos...





     Já agora, deixar aqui um agradecimento a todos os jornais e revistas que não têm deixado cair no esquecimento a Guerra Colonial.

Um abraço para todos
            SANTA

1 comentário:

  1. É sempre bom relembrar ano após ano, para mim é! Gostei bastante da prosa/verso, é estilo novo, e vai directo à nossa memória. Boa Santa, manda mais.... Abr.

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