30 janeiro 2022

O ANTIGAMENTE E O AGORA...

Vou hoje falar um pouco do antigamente e do agora. Tantas saudades eu tenho de tantas coisas do antigamente. Isto para dizer o quê?

   Moro na margem esquerda do rio Mondego. Em linha reta, da minha casa até ao início dos campos de cultura não são mais de seiscentos a setecentos metros até atingir o rio havendo depois na margem direita outra extensão dos mesmos campos.

   Quando tinha cerca de sete anos, a minha mãe ia lavar roupa para o rio, nas férias da escola levava-me com ela. No areal do rio, fazia-se uma cabana feita com canas verdes que iriam servir de resguardo do sol e também sítio para comer. Em pleno areal, jogava-se a bola com outros que da mesma maneira lá estavam como eu. Para mim, era uma alegria passar o dia no rio. Hoje, isto não passa de uma miragem que se tem do passado. O areal já praticamente não existe. O rio foi alterado pela mão do homem e o areal acabou bem como as suas margens que outrora foram verdejantes também foram alteradas, hoje estão completamente rapadas.

  Na margem direita do rio, alguns metros depois, existiam dois lagos ladeados de um arvoredo que lhe davam uma certa beleza. A distância entre eles era aproximadamente um quilómetro a dois quilómetros e que tinham nomes engraçados: "Poço dos Albinos" e "Poço da Minhoca". No inverno, quando o rio Mondego transbordava, inundava toda a margem esquerda e margem direita ficando os campos e suas culturas cobertas de água durante alguns meses bem como os ditos poços. Quando tudo voltava á normalidade, os lagos ficavam com diversas espécies de peixes ; vogas, carpas, barbos, enguias, roubacos e ainda achigã .

  Era para estes poços,(quando tinha mais idade) que muitas vezes ia pescar nos meus tempos livres. Levava umas cervejas umas sandes de chouriço e presunto um rádio e era um dia bem passado. Poucas vezes ia acompanhado. Era eu, a água calma e serena a música que saía do rádio e o cantar dos pássaros. Uma vez pescava bem outras vezes nem por isso.

  Neste tempo, existiam muitas árvores pelo campo e muitos ribeiros (a que chamavam valas)  onde se praticava  a "Sertela" ou seja, a pesca da enguia. Esta, era praticada durante a noite e o isco era a "minhoca" do estrume!

  Os campos eram tratados e semeados pelos habitantes das duas margens. Davam todo o género de produtos alimentares, que depois eram vendidos nos mercados da região e porta a porta. A margem esquerda além de também dar produtos alimentares a sua riqueza eram as "vinhas". Estas também em parte desapareceram com as obras feitas no rio.

  Máquinas para tratar a terra, poucas havia. Era tudo á base de animais principalmente os "bois" que puxavam as charruas  para lavrar aterra e as "grades" aparelho que servia para gradar a terra ou seja "alizar" a terra. Tantas vezes andei em cima delas para fazer peso! O transporte de tudo o que a terra dava, era transportado pelos carros pelos carros puxados pelos bois. No tempo das cheias e não havendo ponte no rio, quando a água baixava, era ver a travessia dos carros de bois estes só com a cabeça fora da água.

  Pois é. O tempo foi avançando e os homens com algumas ideias luminosas, além da transformação que falei atras, acabaram com os ditos lagos, acabaram com as árvores e não contentes até alteram o leito rio tendo até mudado o trajeto do seu leito. Passava por Montemor o Velho e pela Ereira pois foi desviado na zona de Formoselha passando por Alfarelos indo encontrar-se depois com a saída antiga que vinha de Montemor! Hoje, fica nessa parte do leito antigo do rio a pista de Desportos Náuticos de M. o Velho. Contrariaram mais uma vez a mãe natureza.

  A frente da minha casa fica virada para o lado dos campos. Á noite, eu ia á janela (onze horas meia noite) e era interessante no silêncio da noite ouvir os sapos as rãs, os grilos e os raros cujos sons mais parecia uma orquestra! Era no fundo a natureza a fazer-se ouvir. Tudo voltou a mudar. O que fizeram aos campos, o abuso de pesticidas e herbicidas e outras porcarias mais, eu hoje vou á janela ás mesmas horas e para tristeza minha nunca mais ouvi a orquestra. É um silêncio total. O som que se houve agora, é o ruído dos carros que passam na ato-estrada que atravessa os campos.

  Já no meu outro lado da casa, aquilo que via outrora também desapareceu. No pouco terreno que tenho, era ver as borboletas brancas sobre as flores, ver sapos e rãs e os vaga lume á noite , agora onde param? E não uso produto nenhum nem na terra nem nas árvores. É assim que a "Natureza" vai morrendo, a sua beleza de outrora vai desaparecendo  pela mão hábil do homem.

  Até aquele tempo que eu ia nos tempos livres com os meus avós e os meus pais semear batatas e o milho eu tenho saudades. Vinha o tempo da rega e eu adorava andar descalço a regar e a encaminhar a água para os canteiros. Podem dizer que não, mas era saudável. É por isto que eu tenho saudades de algumas coisas de quando era jovem. Agora, que o homem antes de idealizar qualquer projeto e que envolva a natureza, pense bem no que vai fazer e tenha respeito por ela. A "Mãe Natureza é que manda.

 Muita coisa havia mais para dizer. Hoje dia de eleições que todos votem mas... vamos todos votar mais no mesmo! A coisa é sempre a mesma coisa.

                          Para todos um ótimo fim de semana e uma boa semana que se aproxima.


                                                                 SANTA


1 comentário:

  1. Excelente descrição amigo Santa.... Continuas em forma..... e da maneira como aqui deixas as tuas memórias é muito fácil acompanhar-te. Gostei... fico à espera de mais. Abr.

    ResponderEliminar