Com uma alegria imensa, queira receber de todos nós (2415) um grande e forte abraço .
FORÇA MEU CAPITÃO
SANTA
Companhia de Cavalaria 2415 - Moçambique 1968 / 1970
Vinte e oito de Agosto de1968. Cinquenta anos depois. Ainda me recordo dos primeiros dias (13) que estive em Matipa.
Depois de uma viagem desde Chala pela calada da noite da selva Africana ( distrito do Niassa), em que uma dúzia de "gatos pingados" forçados a um acto heróico por uma ordem superior, ordem dada sem qualquer responsabilidade daquilo que nos podia acontecer, quais heróis alegres e destemidos (que remédio) lá chegamos a Matipa !
Chegados são e salvos, fomos ver as nossas instalações. Uma tenda quadrada com piso de terra batida e uma dúzia de sacos cama. Depois fomos recebidos pelo chefe das Milícias e combinamos hora para falar sobre o local.
Depois de uma mini noite, fomos acordados pelo mais belo despertador: os sons da selva ao nascer do sol. É coisa que nunca mais se esquece!
Fui ter com os milícias e aprendi logo um som: era o som peculiar das Hienas. Fomos então reconhecer o local.
Tínhamos a cerca de quarenta metros o rio com alguma abundância de água. O que seria bom para o nosso dia a dia. Enquanto isto, quatro dos meus soldados ficaram tratar da espécie de uma cozinha e ver o que havia de alimentos: zero! Só tinhamos arroz e salsichas que foi o que nós tinhamos trazido!
Estávamos na época das chuvas! Era outro problema. Ao quarto dia, fomos tentar entrar em contacto via rádio com a companhia. Resultado: nunca conseguimos e nem nos dias seguintes. Foi um dia negativo. Nos dias que se seguiram, fizemos patrulhas ao longo do rio e fomos com alguns membros da população local (cerca de oitenta pessoas) á lenha e escolher alguns paus para construção de palhotas. Pensámos arranjar algo de caça para comer ideia que ficou logo de parte por causa do possível tiro indicar a nossa presença ao inimigo.
Depois daqui foi planear os dias seguintes que por sinal não foram lá muito bons.
Por hoje é tudo, um abraço. SANTA.
Assim podia tudo começar, mas foi verdade. É mesmo uma história verdadeira. Faz hoje cinquenta anos (15 de Agosto de 1968) que a velha máquina do famoso "Comboio do Catur)" transportando a 2415, já cansada de percorrer muitos quilómetros desde Nacala, deixava de cuspir fumo negro da sua chaminé e abrandava a sua marcha ouvindo-se o barulho dos seus "freios" como dizendo: Huf.....cheguei ao Catur. E huf.... também dissemos nós, esta primeira etapa já acabou e acabou bem, embora as peripécias já conhecidas no nosso blog. Catur era mesmo o nome da estação e da zona. Estavam á nossa espera a companhia que íamos render. Deixamos o Catur, passámos por Massangulo, onde já estava outra companhia, Caracol, e Lione. Era aqui que passava a ser o nosso aquartelamento. Já não sei precisar a hora, só sei que era ainda 15 de Agosto! Dia, em que na minha terra se festejava a "Festa da Senhora da Nazaré", dia em que era tradição (ainda é) de comer a bela "Chanfana". Um prato típico da zona, feito com carne de cabra e bom vinho! Lembrei-me da família, da namorada e da festa em si com os meus amigo. Tudo bem. O que iria comer eu neste dia com os meus camaradas? A Chanfana estava tão longe! Hoje, já não me lembra o que comi neste dia. Agosto de 1968. Dia 15. Faz hoje cinquenta anos que começou a nossa odisseia por aquele mato (selva) e pelas picadas sempre á espera de uma mina ou de uma emboscada. A partir daqui a saga continuou!
Hoje, quer queiramos ou não é com uma certa "nostalgia" que relembrarmos esta é outras datas da vida da 2415. O passado da 2415 não esquece. Faz parte das nossas vidas e da nossa história. A guerra colonial não é para esquecer. Antes pelo contrário, toda a gente deve saber o que foi e o mal que ela fez a tantos jovens e que nada de bom lhes deu.
Para todos os camaradas da 2415, nestes cinquenta anos da nossa chegada a "Lione" um grande e forte abraço para todos não esquecendo a saudade que temos por aqueles que já partiram.
SANTA
Pois foi! Fez ontem cinquenta anos que a 2415 pisou terras de Moçambique. Que jovens nós éramos! Já viram nas fotos o nosso aprumo? Aqui, ainda a guerra ficava mais para cima. Como se costuma dizer: ainda eram rosas! Mas no meio de tudo, já lá vai mas não esquece.
Mudando agora de assunto. Que vergonha o que se está a passar no nosso país. Não se pode ficar indiferente à calamidade deste grande incêndio em Monchique. Mais um, para ficar na história das páginas vergonhosas deste país! Não se aprendeu nada com os incêndios do ano passado. Se já se sabia que zona da serra de Monchique era uma zona de risco, o que se fez para prevenir tal situação? Nada. Segundo se tem dito na televisão, a descoordenação dos meios de combate ao incêndio tem sido total. Alguém deve saber o motivo! Mas como disse o outro : Não se previa uma coisa destas e este incêndio não era como apagar uma vela de aniversário! Magnífico! Estiveram todos a dormir? Para o ano vamos voltar todos a falar no mesmo! Pois ao longo destes anos passados, todos têm culpa, pois nada fizeram. Não vale a pena andarem a empurrar uns para os outros quando todos são culpados. É triste ver o nosso Portugal em chamas. Porquê? Alguém é capaz de responder? Haja coragem de alguém, para pôr termo à está situação.
Já agora, gostava de citar ALBERT SCHWEITZER (1875 -. 1965) :
"O MUNDO TORNOU-SE PERIGOSO PORQUE OS HOMENS APRENDERAM A DOMINAR A NATUREZA ANTES DE SE DOMINAREM A SI MESMOS"
Com um grande abraço: SANTA.
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O Comandante, o guião e 1º e 2º G.C. |
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O 3º. e 4º. Grupos de Combate |