Da autoria do nosso camarada Capitão Calvinho, aqui vai ...
Eh mué?!...
Djizacona mué!...
...Mué (?): É trropa amigo, mué!
Abre os porta mué!
Trropa não fáz mal!
(E um punho gelado pela cacimba da noite
e pela travessia da ribeira de chiconono
- batia...abria)...
...Ninguém abria.
Num repente
rasgou-se a noite de breu!
Uma rajada de raios
separou a terra do céu
ecoando nos montes
derreteu montanhas de gelo
deixando pairar espectros!
- De homem a homem
de boca a boca corria veloz
a mensagem prá rectaguarda:
(O Costa morreu.. O Costa morreu...
o Costa morreu... O Costa morreu...)
(Quem morreu?!...morreu! morreu?!
Foi o Costa que morreu?!...O Costa?
O Costa... morreu! morreu quem?!)...
- O COSTA MORREU!
- O COSTA MORREU!
( Via rádio seguiu mensagem):
-Urgente evacuação - Dois feridos graves.
Precisam plasma? (perguntam)
- Resposta: Não!
Mas estão vivos? (perguntam de novo)
Sim! Estão! (respondemos)
- Então o hélio vai pela madrugada!
OK...confirmado.
(os mortos não eram evacuados)...
Quando a caminhada era longa
ficavam em covas fundas
perdidos na selva!
à espera da exumação
ou hiena!...
- O Costa e o Morgado
foram, como feridos,
evacuados de helicóptero.
( As mortes foram instantâneas)
O Costa era saudável,
alegre, brincalhão.
Era a bondade em pessoa!
- O Morgado era um soldado robusto,
pacato,
muito humano e sensato!
- O Costa ficou com o crâneo despedaçado)
- O Morgado um tiro no sobrolho
e arrebatou-lhe a vida!
Foi muito fria aquela noite!
E com o nome (noite fria)
ficou no relatório d`operação.
E foi tão fria
que me gelou o coração
e consegui adormecer gelado
(Quase que encostado ao Costa
cadáver).
- E veio a triste e macabra madrugada!
Oh maldita escola de guerra!...
Tão maldita como cruel!
Que m`ensinou a levantar crâneos
de amigos
e...retirar os bichos
empastados em sangue!...
Sangue dum Povo a sangrar
em permanente holocausto
Eram tão jovens - crianças
Foram dois jovens soldados!
Capitão Calvinho
Eu sei que pode ser um pouco chocante, mas era assim que as coisas se passavam. Era a realidade. Uma realidade que não se pode esconder! E quem passou por elas (como o nosso camarada Calvinho) é que pode contá-las desta maneira.
Mais uma vez, um abraço para todos. SANTA.
Eh mué?!...
Djizacona mué!...
...Mué (?): É trropa amigo, mué!
Abre os porta mué!
Trropa não fáz mal!
(E um punho gelado pela cacimba da noite
e pela travessia da ribeira de chiconono
- batia...abria)...
...Ninguém abria.
Num repente
rasgou-se a noite de breu!
Uma rajada de raios
separou a terra do céu
ecoando nos montes
derreteu montanhas de gelo
deixando pairar espectros!
- De homem a homem
de boca a boca corria veloz
a mensagem prá rectaguarda:
(O Costa morreu.. O Costa morreu...
o Costa morreu... O Costa morreu...)
(Quem morreu?!...morreu! morreu?!
Foi o Costa que morreu?!...O Costa?
O Costa... morreu! morreu quem?!)...
- O COSTA MORREU!
- O COSTA MORREU!
( Via rádio seguiu mensagem):
-Urgente evacuação - Dois feridos graves.
Precisam plasma? (perguntam)
- Resposta: Não!
Mas estão vivos? (perguntam de novo)
Sim! Estão! (respondemos)
- Então o hélio vai pela madrugada!
OK...confirmado.
(os mortos não eram evacuados)...
Quando a caminhada era longa
ficavam em covas fundas
perdidos na selva!
à espera da exumação
ou hiena!...
- O Costa e o Morgado
foram, como feridos,
evacuados de helicóptero.
( As mortes foram instantâneas)
O Costa era saudável,
alegre, brincalhão.
Era a bondade em pessoa!
- O Morgado era um soldado robusto,
pacato,
muito humano e sensato!
- O Costa ficou com o crâneo despedaçado)
- O Morgado um tiro no sobrolho
e arrebatou-lhe a vida!
Foi muito fria aquela noite!
E com o nome (noite fria)
ficou no relatório d`operação.
E foi tão fria
que me gelou o coração
e consegui adormecer gelado
(Quase que encostado ao Costa
cadáver).
- E veio a triste e macabra madrugada!
Oh maldita escola de guerra!...
Tão maldita como cruel!
Que m`ensinou a levantar crâneos
de amigos
e...retirar os bichos
empastados em sangue!...
Sangue dum Povo a sangrar
em permanente holocausto
Eram tão jovens - crianças
Foram dois jovens soldados!
Capitão Calvinho
Eu sei que pode ser um pouco chocante, mas era assim que as coisas se passavam. Era a realidade. Uma realidade que não se pode esconder! E quem passou por elas (como o nosso camarada Calvinho) é que pode contá-las desta maneira.
Mais uma vez, um abraço para todos. SANTA.
A crueza das palavras está na proporção daquela terrivel realidade tão dramática. Felizmente que situação igual não teve que passar a 2415. Mas até podia ter acontecido por nos terem tocado coisas algo idênticas. Incomoda-me ainda hoje saber que camaradas mortos ficavam para trás enterrados e abandonados à espera de melhor "sorte"!
ResponderEliminarÈ preciso uma infinita sensibilidade e sofrimento para saber dizer da unica forma que nós entendemos (por serem verdade) palavras tão chocantes.
A minha admiração e respeito para o Capitão Calvinho.
A.Castro