22 setembro 2012

Coluna em movimento

(Foto do album do Paulo Antunes)

Todos que andámos na guerra mantemos ainda bem gravadas na memória um nunca acabar de más e sofridas imagens daquele tempo.
Todos, menos os felizardos que estiveram de férias nas principais cidades e com os cus bem sentados dentro dos QG e outros que tais (ainda hoje me rôo de inveja apesar de isentos de qualquer culpa), foram obrigados a participar em colunas militares aquando das deslocações das suas companhias e batalhões duns locais para outros.
A 2415 não fugiu à regra e o seu histórico indica desde a 1ª viagem (noturna) do Catur para Lione (à chegada) até muitas outras que obrigatóriamente tiveram de se realizar e das quais bem nos lembramos.
Como passageiro de pleno direito nessas colunas (não era aconselhável ficar para trás), ao olhar esta foto veio-me imediatamente ao pensamento algumas delas mas, principalmente, aquela quando íamos a caminho de Tenente Valadim e, após pernoitarmos no aquartelamento de Nova Viseu (hoje Mtlela) em 10Out.69, viemos a sofrer aquela trágica emboscada que vitimou mais um companheiro e mais uns tantos feridos.  Lembro-me que ia na ultima viatura sentado bem alto e bem visivel (aqui aplica-se bem aquela: se estupidez pagasse imposto!) no separador metálico que dividia o banco do condutor do banco duplo em madeira do "unimog".  Ao ouvir os primeiros dispáros do inimigo dirigidos à "berliet"  da frente  carregada de colchões com o pessoal deitado em cima, saltei rápidamente e atirei-me (sabe-se lá porquê) a toda a velocidade mato adentro disparando a G-3 em sentido unico.  Só me lembro de ouvir o cozinheiro Souza (muito atrás de mim) a gritar:  Ó cripto, ó cripto pára aí, pá!  És parvo ou quê?!
Tenho ao longo da vida ouvido muitas palavras sábias mas aquelas foram únicas! Já aqui lhe agradeci publicamente mas, sempre que me lembrar deste "susto", não economizarei os agradecimentos.  Para ele muita saúde e muitos anos de vida e bem gostaria de lhe dar um abraço.
Este episódio já aqui foi descrito em texto e intitulado "Apocalipse Now"  em 14.06.2011 e em vídeo com o nome "A guerra ao vivo" com data de 24.05.2011
Todamaneira esta foto, além de me encher de sentimentalismo (se calhar bacoco devem dizer muitos) aprecio-a na vertente da arte.  Vejo-a em movimento permanente de guerras que nunca vão terminar.
   



1 comentário:

  1. No final do texto questiono "(sabe-se lá porquê). Hoje encontrei a resposta no livro "Sagal-Um herói feito em África" do escritor António Brito quando, a certa altura, diz: "A coragem e o medo são parentes que vivem no mesmo quarto. Tanto te seguram as pernas como te empurram para diante."
    Et voilá!

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