Por: Avelino Torcato Pereira "Choné"
Era da parte da tarde do dia 26 de Fevereiro de 1969 em Lione.
O pessoal encontrava-se todo à volta do campo de futebol a assistir entusiasmado a uma animada partida entre dois pelotões quando, de repente, começámos a ouvir ao longe, mais precisamente na serra que ficava virada para os lados de Chala, o som do rebentamento de granadas.
A malta apanhada de surpresa e sem perceber bem o que se estava a passar deitou a correr a toda a pressa para dentro do quartel a fim de se abrigar. Já refeitos da surpresa e só concentrados naquela zona e no impacto dos projéteis deu para perceber que eram granadas de canhão sem recuo que eles usavam e só podiam ser-nos dirigidas, apesar de rebentarem a uma certa distância do aquartelamento. Foram sete rebentamentos que nos deixaram perplexos e "à rasca".
Ainda bem que o IN não sabia manejar tal ferramenta, caso contrário a tarde de futebol podia ter sido sangrenta.
(Foto tirada dentro do quartel avistando-se ao longe a zona onde foram feitos os disparos - Viagem a Moçambique de A.Castro-2010)
Na altura o assunto foi muito discutido e, ainda hoje, sempre que nos reencontramos voltamos a trocar impressões, pois há quem defenda que era só para assustar a tropa por causa das boas relações que mantinhamos com a população de Lione e também porque seria arriscado apontarem as granadas na direcção do quartel pois podia atingir a aldeia que era ao lado.
Foi por causa deste "ataque" do IN que nos foram dadas instruções no sentido de avançarmos num reconhecimento àquela zona. E, assim foi feito, tocou ao meu pelotão (1º) juntamente com outro que agora não me recordo. Entretanto, já não me lembro bem como foi, mas entregaram-nos um tipo para servir de guia e para nos levar até ao local o mais depressa possivel. Só que o guia, quanto a mim, estava feito com o IN e fez-nos andar às voltas do objectivo de propósito para atrasarmos o mais possivel a chegada à base e assim dar-lhes algum tempo para se porem em fuga, evitando o confronto directo.
Isto durou bastante tempo, julgo que 2 dias. Finalmente, já muito cansados, o tipo lá nos dirigiu ao local. Era uma vereda com alguns abrigos e palhotas e havia indicios de ter havido fogueiras acesas, sinal que o IN tinha abandonado o local há pouco tempo.
Imediatamente montámos segurança e iniciámos as buscas acabando por encontrar os invólucros das granadas que ouvimos rebentar.
Deitamos fogo às palhotas e destruímos o local deixando a base inutilizada.
Ao fim de 3 longos dias após o inicio da operação regressámos a Lione com o material apanhado, cansados, massacrados, com fome e sem dormir há 2 noites. Logo à chegada a primeira coisa em que pensámos foi vingar-mo-nos do "trafulha" do guia por nos ter enganado de propósito ao fazer-nos andar às voltas e sem rumo. E a nossa indignação era ainda maior porque o fulano nos gozou, pois sempre que lhe perguntávamos quanto tempo faltava para chegar à base, respondia: "Patrão é já ali, demora o tempo de 1 cigarro" , enquanto estendia a mão. E nós iamos na conversa dele e dávamos o cigarro. E foi cigarro atrás de cigarro que o gajo fumou para aí 2 maços de tabaco à conta da malta, até se resolver nos levar ao destino daquela operação.
Foi então que alguém se lembrou, ao olhar para o forno aceso do padeiro, de meter o infeliz lá dentro. E, quando já ia no ar para lhe enfiar as pernas na portinhola do forno em labaredas, surgiu de repente o nosso Capitão a gritar da porta do gabinete e a dar por terminada a vingança, ficando esta sem efeito.
Quanto ao coitado do guia já não me lembro do que lhe aconteceu. Na melhor das hipoteses terá ido parar à PIDE em Vila Cabral.
(Foto do álbum do Paulo Antunes: Material apreendido ao IN pela CCav.2415. Vê-se alguns dos invólucros descritos no texto)
ESTE EPISÓDIO TERÁ CONTINUAÇÃO NUMA PRÓXIMA OPORTUNIDADE A QUE CHAMAREI: "O DIA QUE NÃO VIVI". - Avelino Torcato Pereira "Choné" -
(Nota: O texto destas "memórias" já me tinha sido entregue para publicação no blog algum tempo antes do incidente recente acontecido ao seu autor. A.Castro)
Olá Paulo.Espero que leias este comentário. Já sei que estiveste com a minha filha no Continente. Obrigado pela atenção que tiveste bem como a tua espôsa. Daqui te envio um grande abraço com os votos para que estejas melhor e um beijinho para a tu espõsa.Um grande abraço. Santa.
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