Quando há dias atrás deixei aqui uma opinião sobre o excelente livro "O Anjo Branco" juro, solenemente, que não tinha a noção exata da realidade do horrendo massacre perpetrado pelas tropas portuguesas na localidade de Wiriyamu em Moçambique no ano de 1972. Tinha sim uma vaga ideia, pois ao longo do tempo fui ouvindo, coisa aqui, coisa acolá sobre aquele fatidico acontecimento, mas nada que se compare com a realidade, agora, tão cruamente relatada pelo José Rodrigues dos Santos.
A parte final do livro, talvez por considerá-la o fio condutor, como diz, obrigou-o a relatar toda a verdade pura e dura e, por isso, de modo algum, aqui pode caber a ficção.
Ao escritor e a todos aqueles que se preocupam na denuncia das verdades escondidas, principalmente as que nos fazem doer a alma, temos a obrigação de lhes ficar eternamente agradecidos.
Entendo que são eles os nossos porta-vozes, que nos ajudam a ficar com as consciências menos pesadas, e que acabam fazendo o trabalho dos politicos e mandantes insensiveis que ao longo dos anos vão adiando, por cobardia por conveniência e má fé, a obrigação e o dever do mea-culpa ao povo português que interveio na colonização e na guerra colonial.
Da parte que me toca não vou perdoar nunca essa dívida. Se desejarem troco-a, até, pela esmola dos 92 Euros com que desde 2006, e sem bem saber porquê, o Estado me obsequeia anualmente! Peço desculpa deste aparte, já que estou a tratar dum assunto sério demais, que me envergonha como cidadão e como ex-militar que também penou por aquelas paragens.
Ainda bem que pertenci à chamada "tropa macaca" e sinto-me orgulhoso de ter pautado a minha vida militar como pessoa civilizada, apesar das dificuldades e dos perigos da guerra.
Massacre de Camabela, Angola-15Março1961
Guerrilheiros dos Movimentos de Libertação assassinaram as populações indefesas de colonos brancos apanhados de surpresa enquanto dormiam. Foram chacinadas mais de mil pessoas, entre elas muitas mulheres e crianças, esventradas e mutiladas à catanada.
Este horrendo crime está bem documentado, neste video, pelos próprios intervenientes com tamanha simplicidade que até magoa ao assumirem que deram inicio ao "trabalho" (assassinio, digo eu) às seis horas da manhã.
Para casos destes é usual invocar-se a questão, posteriormente, com a habitual frase feita: "É A GUERRA QUE SE HÁ-DE FAZER?"
Mas como a evasiva não satisfaz, pergunta-se a todos os culpados: "QUEM SAIU VENCEDOR?"
Massacre de Wiriyamu, Moçambique-16Dezembro1972
Tropas portuguesas de "elite" (Comandos) invadiram e chacinaram numa fúria assassina as populações indefesas de Wiriyamu e outras aldeias próximas. Foram mortas e queimadas selváticamente quinhentas pessoas, como sempre muitas mulheres e crianças inocentes.
Do mesmo modo que acima o fiz aqui também faço a mesma pergunta : "QUEM SAIU VENCEDOR?"
A descrição macabra feita pelo escritor José Rodrigues dos Santos (ler estes pequenos extratos do seu livro) é, tão só, a profunda realidade do acontecido. Verdade crua e inatacável, que nos deixa atónitos, perplexos e envergonhados. Foi o que senti e, para me redimir como cidadão português (se é que pode haver perdão), obrigo-me a continuar, dentro do possivel, a denunciar estes factos que sujam a humanidade.
Bem hajam todos aqueles, como o Padre Hastings que fez a denuncia ao mundo, que comungam deste espirito civilizacional. Seria bom que o Tribunal dos Direitos Humanos em Haia tivesse presente que o mundo vai para além das antigas Alemanha nazi e da Yugoslávia e que Portugal e a África são já ali.
Pelo conhecimento adquirido ao longo dos anos, há uma pergunta que tenho vindo a fazer a muitos cidadãos de cá e de lá: "VALEU A PENA TANTA DOR E DESGRAÇA?
As respostas são prontas: "NÃO. A FOME E AS MÁS CONDIÇÕES DE VIDA CONTINUAM A MATAR AS POPULAÇÕES, COMO ANTIGAMENTE. SÓ MUDARAM AS BANDEIRAS!"
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