Acho que já o disse aqui no blog que li o "Nó Cego" há mais ou menos 20 anos atrás. Reli-o, agora, de novo e, desta vez, o gozo foi maior, talvez porque tenho mais paciência e tempo disponiveis. Entra-se naquela trama com a maior das calmas, assim a modos como se tivesse feito parte daquela companhia. E, o gozo é maior porque nada daquilo é estranho, tudo nos é familiar.
Vem isto a propósito também por causa da "Casa da Sandra" em Nampula que o autor Carlos Vale Ferraz fez questão de bem frizar na obra. Aliás, naquela época, no meio militar, era tão conhecida ou mais do que o Q.G.
A mim aconteceu-me algo idêntico quando da minha passagem por aquela cidade e que relembro com alguma satisfação.
Em Agosto 1970 desloquei-me a Nampula para uma consulta médica no hospital. Asilei em casa dum amigo que, nós militares, costumavamos chamar o "amigo da terra" a todos aqueles que lá estavam inseridos e que daqui partiam com as familias deixando a pobreza para trás. Era o Barros e tinha uma oficina auto com a respectiva bomba de gasolina, numa rotunda de onde saía, sempre a subir, uma avenida direita ao Q.G.
Foram alguns dias bem passados a carregar baterias, pois a guia de marcha de regresso ao mato era para ser cumprida. Além da excelente hospitalidade e mordomias que me foram oferecidas por aquele amigo, concerteza que não podia faltar uma visita ao local mais famoso da cidade. Lembro-me como se fosse hoje, a penumbra originada pela pouca luz e pelo fumo das centenas de cigarros ali fumados, muita gente de camuflado que ali ia gastar, quem sabe, parte do pré recebido, em whisky e cerveja. Elas, as "entretainers", muito poucas, mesmo para consolo dos olhos. Se calhar naquele dia houve inspeção ou, talvez, porque ainda não tivesse chegado novo carregamento proveniente do Cais do Sodré!
Depois de alguma conversa com conhecidos do Barros, sempre de copo na mão para os obrigatórios "saúde", a noite terminou e regressámos à base.
Em tantos anos de guerra quem sabe quantos milhares de militares fizeram esta mesma peregrinação nocturna? Estou em crer que muitos, certamente!
Daí que a "Casa da Sandra" tivesse entrado, de pleno direito, neste excelente livro intitulado "Nó Cego", que não é mais nem menos do que uma alusão à célebre operação "Nó Górdio" mandada efectuar pelo Gen.Kaulza de Arriaga na zona de Cabo Delgado.
Aproveito para recomendar vivamente a sua leitura.
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