14 agosto 2009

As aventuras (e desventuras) do meu regresso...


(Pelo F. Santa)

Olá camaradas. Aqui estou eu de volta.

Já regressei de férias. Este ano fui até aos Picos da Europa. Foi espectacular. Realmente são paisagens lindíssimas. Recomendo.

Já contei a todos o que me aconteceu e me levou ao hospital mas, agora vou contar um pouco da odisseia que passei em toda a cena, pois tudo é pertença da guerra.

Embarquei em Vila Cabral num “NORÀTLAS,” nem sei se é assim que se escreve. No seu interior iam no chão as macas com feridos graves, nos bancos de lado iam os feridos com menos gravidade. Logo aos quarenta e cinco minutos de voo a “lata” já deitava fumo e eu já pensava que não morria no mato mas ia morrer de desastre de avião. Contudo, embora um pouco de lado e com um dos motores a meio gás lá aterrámos em Nampula.

Passado alguns meses parti para Lourenço Marques sem qualquer problema. Chegado ao hospital fui muito bem recebido com uma espécie de caldo verde. Foi o meu jantar. Passado um mês serviram numa refeição uma espécie de arroz de marisco só que o Santa ia indo desta para melhor pois calhou-me um “bichinho” estragado. Só me lembro de dar saltos na cama e não sei de onde saiu tanta água do meu crpo Foram cinco dias a caldinhos mas lá me safei e, disse o médico, com um pouquinho de sorte, pois a intoxicação foi forte . Faltava um mês para embarcar para a Metrópole com destino ao H. Militar, estava eu sentado no jardim com um sargento, apareceu um cauteleiro que nos abordou para comprarmos a única cautela que ele trazia. Depois de tantas vezes teimar o sargento contra a minha vontade não quis comprar e eu só, não tinha dinheiro para a compra da mesma. Resultado. A cautela teve o primeiro prémio. E na altura se era dinheiro! Entretanto fui evacuado para Lisboa no paquete Angola. Paramos em Durban (África do Sul). Sai com uma enfermeira de Cabo Verde que nos acompanhava. A ideia era dar uma volta mas foi mentira, apareceu logo a polícia para nos prender, ia acompanhado por uma pessoa de cor o que não podia mas com alguma dificuldade, pois o homenzinho estava mesmo disposto a prender-nos, lá resolvi a situação.

No H. Militar de Lisboa (galinheiros), depois de alguns meses de lá estar, fui visto por um senhor médico que era conhecido por: Corta pernas. Queria-me operar. Depois de ver toda a papelada quando reparo, imaginem o meu espanto que a marcação era para ser operado ao braço esquerdo e não ao pé. Já agora, ele era conhecido por “corta pernas”porque cortou muitas pernas a camaradas nossos evacuados mas já devidamente tratados e com todas as possibilidades de ficarem com elas, mas ele simplesmente mandava cortar.

Como vêem, camaradas, do mato ao hospital tudo podia acontecer. Há muitas coisas que foram escondidas da opinião pública no que refere à última parte que contei. Já agora posso dizer, quem nos valia nos hospitais do ultramar eram as senhoras da Cruz Vermelha.

Pronto. Hoje foi assim para mudar um pouco de cenário. Fugir um pouco à rotina do mato.



Um abraço para todos

SANTA






2 comentários:

  1. Olá Santa.
    Já vi que regressaste de férias, com reinicio da actividade descritiva -MEMÓRIAS DA GUERRA-que por ironia do destino, nos toca a nós e à maior parte da juventude do nosso tempo.
    Como ainda tenho casa aí em Coimbra, aonde me desloco com frequência, temos que nos encontrar para beber um copo, nem que seja um copo de água ou um chá de camomila.

    Um abraço do Paulo.

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  2. Camarada Paulo.
    Sempre que vieres a Coimbra liga-me que eu tenho todo o prazer de estar contigo. Não para beber um chá de camomila mas uma coisa mais forte ou até almoçar-mos juntos o que seria optimo. O texto que escreveste está porreiro. Sendo assim quando se proporcionar o nosso encontro ligas-me com um pouco de antecedênciapara o número: 939440799
    Sempre que estejas disponível estarei contigo.

    Um abraço de guerreiro
    Camarada Santa

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