26 novembro 2017

RECORDAR...

É verdade, amigo Soares. Tu estavas em Santa Margarida e eu estava em Castelo Branco a dar recruta. Tinha vindo passar o fim de semana a casa, mas até ao fim de Domingo não sabia o que se estava a passar. Deixei a namorada para apanhar o comboio rápido (na altura era o rápido que havia) em  Coimbra para fazer a viagem até ao Entroncamento e depois apanhar a ligação para Castelo Branco. Quando cheguei ao Entroncamento é que eu e a malta que ia para C . Branco constatamos que algo de anormal se passava. Havia muitos comboios parados na estação e muita gente, neste caso passageiros, que iam para outros destinos. E foi então que ficamos a saber que tinha havido inundações e que a linha férrea estava interrompida em Vila Franca de Xira, portanto os comboios não passavam. Mas, ninguém na altura sabia a dimensão daquilo que tinha sucedido realmente. Só quando cheguei a C. Branco ao quartel, já era manhã, é que fiquei a saber realmente a tragédia que tinha acontecido em Lisboa mas com mais incidência nos arredores. Como é sabido, o governo fascista de Salazar escondeu (ou tentou esconder) até o mais tarde possível a dimensão  da catástrofe. Depois, foi lidar com uma certa aflição de determinados soldados daquelas regiões por causa de possíveis familiares residentes naquelas zonas inundadas. Os primeiros dias, foram para esquecer.
Agora um aparte. Tenho um colega meu que estava em Santa Margarida, que foi para a zona daquele paiol que explodiu, para procurar material de guerra e que teve o azar, de  rebentar uma granada que lhe ceifou o braço direito.
Isto são as nossas histórias da vida (histórias verdadeiras) que nos ficam na memória pelas piores razões. E hoje, ao ver na televisão imagens e depoimentos daquela gente que sobreviveu, (na maior  parte se não a maior parte) pobre, vivendo na maior das pobrezas, é arrepiante.
              Um abraço. SANTA.
          

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