06 novembro 2016

PORQUÊ?...



PORQUÊ? Pergunto eu! Porque é que ainda existem pessoas que zumbam de nós? O que é que
 têm contra os Deficientes das Forças Armadas? Culpados? Nós? De quê? Quem nos mandou para lá? Quem nos tirou o melhor da nossa juventude? O que nos vendiam na altura, é que ia-mus defender a nossa Pátria. Hoje? Quanto sentimos na pele aquilo que compramos. É fácil as pessoas de agora dizerem coisas menos próprias contra nós. Porquê? Porque a guerra acabou e os seus filhos e netos já não têm que passar pelo mesmo que nós? Que o futuro, não lhes reserve o mesmo que nós passamos. São os nossos votos. Dizia-me um amputado aqui á tempo: Chamam-me perneta, que só estorvo, aos cegos chamam cegueta, a outros chamam chonés da guerra. 
 Será que fomos para lá assim? Porque é que ainda á gente que nos trata assim? E os que morreram? Será que ainda á respeito por eles? Fiquem sabendo: Não há dinheiro ou pensão que pague o valor da vida.
Por vezes não se pode falar da guerra em qualquer lado. Á gente atenta á nossa conversa e diz: vão contar histórias para outro lado. Faço ideia o que vocês passaram... é só histórias, foi só passear. Claro, quem esteve nas cidades não pode falar como aqueles que estiveram em contacto com a guerra, mas alguém tinha que ficar nas cidades a tratar da logística da mesma.  Não são culpados disso. Já apanhei alguns a contar histórias! Mas num cento de laranjas há uma podre, não quer dizer que todas as outras também são! As pessoas que ainda hoje desdenham de nós, não sabem o que eram os hospitais Militares da altura. Eram armazéns de despojos humanos que sofriam no corpo e na alma as torturas da guerra. Eram escondidos da sociedade pela ditadura. Isto já para não falar das morgues militares que escondiam as urnas que vinham pela calada da noite. Já pensaram o que sentiram na altura aquelas mães, mulheres e noivas com aqueles que faziam parte desta situação? Pensem um pouco e ponham-se no lugar delas! E aqueles que ficaram por lá enterrados? Cujas famílias nunca mais os viram? Pois é. Falar e criticar é fácil quando toca aos outros mas, só o que não se sabe é o dia de amanhã. É que as coisas não acontecem só aos outros...Quantas mulheres ao longo destes últimos 40 e tal anos não foram enfermeiras dos seus maridos. Quantos noivados e casamentos foram desfeitos. Quantas famílias atormentadas pelo stress de guerra dos seus maridos...
Peço desculpa se este texto é um pouco chocante. Não o escrevi para ofender ninguém mas sim pela mágoa que sinto, mas lá diz o ditado: quem não se sente não é filho de boa gente. Já estamos todos no fim das nossas vidas. Respeitem-nos. É o mínimo que todos os que pareceram e ficaram deficientes merecem, e os outros que não andando na guerra e que são também deficientes, merecem o mesmo respeito. Eu sei, que á mentes que o tempo não muda. Temos pena!
A partir de agora, não quero voltar a falar mais deste assunto. Deixo á consciência de cada um pensar o que quiser. O desrespeito por um deficiente, seja ele da guerra ou de outra situação é como um punhal cravado no corpo de cada um: FERE.Que todos estes punhais, em lugar de ferirem se transformassem em flores de respeito e dignidade para com os outros. No fundo, que haja humildade e respeito por todos.

           Eu não queria escrever isto. Mas (como dizia o outro) a mágoa magoa e o coração sente!

 " Uma língua afiada numa boca maldizente
     um cabeça desgovernada de quem juízo tem pouco, um insensato coração e uma
     alma de louco, imprudente, é como uma arma carregada nas mãos de um delinquente."
                                                                                                            Carlos a. da Silva


       Com as minhas desculpas, despeço-me com a mesma amizade de sempre. Um abraço.
          
                                                                           SANTA



          


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