Por: F.Santa
Há pouco tempo, numa sala de espera de um hospital, numa conversa
casual com alguns pacientes veio à baila a guerra do ultramar e o
que ouvi deixou-me perplexo e revoltado.
Existem três mil e tal camaradas nossos espalhados por cemitérios
em: MOÇAMBIQUE, ANGOLA e GUINÉ. Fiquei a saber também, que o custo
era de três a oito milhões de euros para transportar as suas ossadas
para cá. Pois bem, quanto custou o Aeroporto de Beja? Trinta e três
milhões de euros. Sendo assim ainda restavam uns míseros vinte cinco
milhões! Devemos ser o único país que tem um aeroporto para aterrarem
as “moscas”, pois está às moscas! (Acho que nem moscas deve ter…)
A história não fica por aqui. Contaram-me também, que nos locais,
desenterravam as ossadas dos nossos camaradas e as vendiam como troféus,
e como não bastasse, também para fazer magia negra.
Senhores governantes deste país. Peço em meu nome e de todos os
meus camaradas e famílias daqueles que por lá estão enterrados, que
tenham vergonha e um pouco mais de sensibilidade pelos restos mortais
dos que tudo deram pela Pátria. Não os esqueçam. Façam alguma
coisa. Pois ainda podem ir a tempo! Os vivos, esses já há muito tempo
que foram desprezados, tanto os inteiros como os partidos, agora o que
se passa com aqueles que ficaram esquecidos naqueles cemitérios, que
deram a vida pela sua pátria (era o que nos era vendido na altura)
e não tiveram a sorte de regressar para junto das suas famílias com
a dignidade que mereciam, esta mesma dignidade os governantes deste
país não lha quiseram dar.
Que Pátria é esta que não sabe honrar os seus combatentes?
Tanto dinheiro é esbanjado neste país (basta ler os jornais e
ouvir as notícias) por tudo quanto é lado, e para colmatar esta
injustiça, não há?
Estamos todos a desaparecer. A nossa idade vai avançando. Aos poucos
vamos desaparecendo pois a morte nos vai levando e depois já não
resta nada. A geração muda e vem o esquecimento total, e então sim:
Os nossos governantes já podem dormir descansados, pois o passado
fica lá atrás!
Eu sei que nos últimos tempos fez-se alguma coisa (não os nossos
governantes) e foram trasladadas as ossadas de alguns camaradas graças
a algumas entidades deste país, tais como: Liga dos Combatentes, A.D.F.A.
e TAP. Desculpem se me esqueço de mais alguma. Mas, não eram estas entidades que deviam ter o dever desta missão. É o Estado português
que tem o dever moral e humano de o fazer. Assim sendo, é vergonhoso
que assim não seja. Não fomos por nossa vontade, fomos obrigados, desempenhámos o nosso papel com lealdade, e tanto os vivos
como os mortos e estropiados, fomos abandonados pela MÃE PÁTRIA! Fomos
abandonados tanto antes, como depois do 25 de Abril.
Que linda história temos para contar aos nossos filhos e principalmente
aos nossos netos! Será que ficarão orgulhosos?
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Do nosso camarada Capitão Calvinho:
OS MORTOS
OS MORTOS VINHAM DE NOITE
Pela noite caladaao chão da gente ultrajadaaporta o cargueiro da mortequal abutre farto e fortevindo das frentes de guerravomita despojos em terra!…Gritavam as aves nocturnas!Por entre abraços de gruasE das cordas dos porõesSobem e descem caixõesQue trazem (nomes de ruas)!(Uma noiva fazendo serão.Prepara seu enxoval…)…Rangem dentes de guindastes!- Em cada urna há um silêncioQue é um grito:- Pátria!?... Porque me abandonaste?!E o grito ecoa… ecoa…Bate na montanha de pedraDe um Cristo-Rei coniventePaira sobre o tecto de Lisboa…Uma mãe acorda de olhos molhados:- Terrível pesadelo!E o eco mastigado pelo Tejo!Só a noite foi testemunha!...(A noite e euque pela manhãno corredor do hospitalsentia passar Bandeiras Nacionaissem faixas negras de luto.)
Espero
por vocês na parada do “SANCHO” no dia 5 de Maio, até lá um grande
abraço do SANTA.
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