12 novembro 2010

ESQUECIDOS – 3

Por: F. Santa

 Amigo Castro: Gostei muito do texto que escreveste. As tuas palavras espelham bem o momento actual. A maior parte destes nossos governantes de agora, não sabem o que foi a guerra. Não sabem o que foi o pó  da picada nem a noite no mato nem o zumbido das balas e dos rebentamentos das minas nem o estrondo das morteiradas e o estar longe da família! Sempre se sentaram à mesa a comer do bom e do melhor enquanto nós era a ração e muitas vezes nem isso. E hoje? Continua a saga: muitos que estão cá, já nem comer começam a ter e só lhes restam as migalhas monetárias que por esmola lhes dão!

                                                           E OS OUTROS?
                       
                                               Onde estão os outros?...
                                               ?! Que outros?!..
                                                Quem?! 
                                              - Aqueles que partiram sem regresso?...
   
                                               - Que nem inteiros nem partidos,
                                               Nem mortos regressaram?...
                                             
                                                Esses são ainda muitos
                                                Dos tantos que os outros foram!
                                           
                                                - Alguns (quase nenhuns) serão inteiros (?)
                                                - Outros entre os mortos se contaram
                                                e deles vieram urnas
                                                sem vestígios de morte 
                                                Outros destes:
                                                terão sido pasto de hiena. 
                                                - Mas eu ouvi também falar
                                                em « Homens cestos »!?
                                                Ou em cestos que escondem homens!?... 
                                                 - Bem esses… de quem a medo se fala:
                                                 Se existem (?)
                                                 Estão escondidos dos olhos do povo
                                                 e das consciências
                                                 daqueles que os olhos, as pernas e os braços
                                                 lhes roubaram…
              
                                                 E lhes deram a forma de cesto
                                                 suspensos no ar!
                 
                                                 -Mas isso é criminoso!...
                                                 Há tanto crime ainda por contar!... 
                          
              Mais uma poesia do nosso camarada Capitão Calvinho, que bem se pode enquadrar á situação dos esquecidos.


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Aqui está mais uma fotografia enviada pelo nosso camarada Pires. Ele mais o nosso saudoso camarada Joaquim António Lourenço conhecido entre nós por “Joaquim Maluco” para quem as Berliett eram um brinquedo! Grande homem! Que ele esteja em paz.
      Já agora, gostaria de lembrar os nossos camaradas que não escrevem nem mandam histórias da nossa companhia, pelo menos façam alguns comentários aos textos que são escritos no nosso Site, é um sinal de que estão atentos a ele! Olá Sintra! Por onde é que andas? Ainda estamos á espera das tuas notícias. Lembras-te do que prometeste?
      Este texto já estava escrito quando fui incumbido de representar a Associação dos Deficientes das Forças Armadas (Delegação de Coimbra), hoje dia 11 para a cerimónia do Armistício, (comemoração do final da Guerra 14 – 18 e homenagem aqueles que nela tombaram. Na mesma comemoração, foi lembrado também o fim da guerra no Ultramar (36 anos) e os que nela tombaram. Ao fim de 40 e tal anos, voltei a recordar o firme, sentido, apresentar armas e o descansar. Desta vês não foi com a G3 mas sim com o nosso Guião. Camaradas. Não vale a pena dizer o que senti. Foi algo de estranho e ao mesmo tempo comovente e sentido. Naquela altura passou pelo meu cérebro um pequeno filme de todos os nossos camaradas mortos, não só da nossa companhia mas de todos em geral. Era o passado que estava naquela altura presente com a sensação do dever cumprido.
 
             Agora vou ausentar-me até ao dia 20, depois cá  estarei novamente se Deus quiser. Um abraço para todos do:

                                                       Ex. Furr. Santa  


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2 comentários:

  1. Agradou-me bastante rever o nosso amigo "Joaquim Maluco", como gostávamos de lhe chamar, no seu melhor há 42 anos atrás.
    Não tenho episódios para contar que tenham a ver com a sua pessoa. Mas vêm-me à lembrança, isso sim, a sonoridade da sua voz alegre, do riso genuíno e da sua boa disposição constante. Foi um bom companheiro, homem corajoso (qual minas qual quê?!) que, infelizmente, desapareceu a destempo e de quem sentimos falta.

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  2. Olá pessoal da nossa Ccav. É bom que lembremos também os camaradas que nos davam "boleias" nas suas viaturas. Neste campo o nosso amigo Braga, certamente, teria algo a dizer com todas as suas histórias dos assaltos ao PAD de Vila Cabral para obter material para as viaturas.O nosso alcunhado "Joaquim Maluco" era um condutor especial que tinha o primeiro lugar a partir molas das viaturas do Braga. Lembro-me daquela vez que vínhamos de Chala numa berliett que não o tinha taipal da traseira e como sempre carregados do habitual pessoal da boleia. Às tantas lá estava o buraco na picada e o salto da viatura foi inevitável. Pessoas, cestos e diverso material ficaram suspensos no ar e quando aterraram já a viatura do "Jaquim" estava quase a cem metros do local. Com gritos e choros dos caídos e os gritos da malta lá conseguimos que o condutor parasse a viatura e fizesse marcha atrás para recolher os passageiros que rebolavam cheios de pó na picada. Graças a Deus foi só o susto. Um abraço do Paulo.

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