31 outubro 2009

SAUDADE

(por:  F. Santa)

Saudade. Palavra que segundo dizem, foi inventada por nós portugueses e só nós a sabemos interpretar. Saudade, pela parte que me toca é o que sinto quando me vem à memória as nossas aventuras por terras de Moçambique com todos aqueles que compartilharam connosco. Ontem fez anos que os nossos camaradas PENICHE E CORADO ficaram para traz. Uma guerra sem sentido deu-lhes como prémio uma morte cruel e sem piedade levando-os do nosso seio não podendo hoje compartilhar os nossos convívios nem este cantinho onde nós depositamos todas as nossas lembranças. Estamos a entrar em Novembro, mês em que se celebra o dia de todos os santos (fiéis defuntos) eu não queria deixar esquecer todos aqueles camaradas nossos que pareceram dando a vida pela Pátria. Respeitando a crença de cada um eu quero aqui deixar bem expresso a minha saudade por eles e que Deus os tenha em bom lugar. Todos eles foram nossos companheiros, todos eles estiveram nos bons e maus momentos por que passámos, e todos nós fomos impotentes para os manter ao nosso lado, às famílias a nossa eterna saudade.
Eu sei que para alguns isto pode ser pieguice, também sei que para alguns isto não diz nada, mas para mim diz-me muito pois ainda hoje continuo a estar em contacto com a realidade e a realidade ainda hoje incomoda muita gente. Ainda no princípio deste mês um camarada nosso pôs termo à vida .Era aqui próximo de Coimbra. Sabem porquê? Viveu com stress de guerra desde que regressou do Ultramar, só há cinco anos é que foi a uma junta médica dando-lhe uma determinada incapacidade só que passaram cinco anos e não viu um tostão, tendo dificuldades na vida foi a solução que ele arranjou. Agora sei que já estão a dizer que o Santa é um revoltado. Pois neste aspecto sou. Passámos todos as “passas do Algarve” e fomos esquecidos e atirados para o lixo considerados já, impróprios para consumo.
Desculpem, mas este foi mais um desabafo meu. Não podemos esconder a realidade por mais cruel que ela seja e como já disse atrás, faz-nos bem desabafar. Para todos aqueles que pareceram que as suas almas estejam em paz.
Mudando de assunto: Continuamos a ser só meia dúzia que integram (eu chamo-lhe) o nosso cantinho, onde estão os outros? Moreira, Braga, Magalhães, Miranda, Madureira, o J.M. Vieira Rodrigues e outros. Será que não têm tempo? Não acredito! Faço um apelo para que colaborem e passem a mensagem a outros, este nosso espaço não pode morrer. Estive na passada quarta-feira ao telefone com o Vilas Boas, está muito desanimado com os problemas de saúde que tem e quase de certeza que alguns deles são “prendas” dadas pela guerra. Esteve a dizer que praticamente não sai de casa e sendo assim caminha para a solidão. Não vamos deixar, vamos contactar com ele de vez em quando e dar-lhe apoio, deixo aqui o contacto dele: 217601557. É assim que se vê a força da C Cav. 2415: saudade, amizade e solidariedade sempre!
Por hoje acho que já  chega, vamos todos para a água-pé e para as castanhas assadas e sorrir e tentar-mos ser felizes até ao fim das nossas vidas que a vida não está fácil.
                                              
                                Um abraço do tamanho do mundo para todos vocês
                                 deste vosso camarada: SANTA             




2 comentários:

  1. Amigo Santa, o texto que acabaste de escrever (ainda está quentinho) só demonstra como és uma pessoa de bem. Subscrevo-o ao teu lado! Aplica-se inteiramente o velho ditado "Quem não se sente não é filho de boa gente". É um privilégio para mim continuar a ser teu camarada e amigo. A tua filosofia de vida é um exemplo a seguir.
    Tomei nota do telefone do Vilas-Boas. Obrigado.

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  2. Nós somos doutra geração. Uma geração com sentimentos, uma geração com boas tradições (felizmente)que ainda conhece a palavra saudade. Por mais sinónimos qualificativos que utilizes contra aqueles que nos usaram, pisaram e actualmente nos ignoram, ainda são poucos. Mas esses gajos não têm rosto e escondem-se detrás da carapaça do ESTADO. O ESTADO é um fantasma que se aproveita de tudo e de todos, sem dó nem piedade,para satisfazer a ganância do poder e da crueldade humana. Um grande abraço.

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